Valor Econômico
31/07/2020

Por Katia Simões

Startups inovam com soluções de baixo custo

Nascido e criado na cidade mineira de Mariana, o engenheiro William Pessoa foi fortemente impactado por um dos maiores desastres ambientais do país: o rompimento, em 2015, da barragem de rejeitos de mineração da Samarco, que provocou mortes e poluiu a bacia do Rio Doce. A tristeza foi transformada em combustível para empreender. “Quando trabalhei na Croácia tive contato com várias soluções baseadas na natureza, capazes de recuperar recursos hídricos a baixo custo”, afirma Pessoa. “A minha ideia era colocar isso em prática no Brasil.” Entre o desastre e a abertura da LiaMarinha foram dois anos.

A startup especializou-se na criação de Estações de Tratamento Natural (ETNs), compostas por ilhas flutuantes e barreiras filtrantes. “Além de serem usadas em rios e lagos, podem ser aplicadas no tratamento de efluentes sanitários e industriais”, diz Pessoa. “A tecnologia reúne simplicidade de operação a custo baixo, duas características importantes em um setor carente.” A Fundação Renova é o primeiro grande cliente da startup, que espera alcançar R$ 1 milhão de faturamento em 2021.

A busca por soluções eficazes a custos competitivos abre oportunidades para empresas dispostas a investir no setor, tendo pela frente um mercado potencial de US$ 6 bilhões até 2030, segundo dados do Boston Consulting Group.

“Trata-se de um mercado nascente no Brasil, porém, com grandes perspectivas de crescimento, sobretudo, com a entrada em vigor do novo marco do saneamento”, diz Péricles Weber, diretor de operações da Iguá Saneamento, que atua em 37 municípios de cinco Estados, por meio de 18 operações. Na visão do executivo, a aproximação com as startups ajudará o setor a inovar de forma mais rápida, como já aconteceu em outras áreas.

Com essa proposta, a companhia lançou em 2018 o Iguá Lab, programa voltado para startups apresentarem inovações para os serviços de água e esgoto. Com R$ 1 milhão de investimento, a iniciativa somou em duas edições 150 empresas inscritas, dessas, 20 foram selecionadas e mentoradas. Entre elas, a Stattus4, criada em 2015, na incubadora do Parque Tecnológico de Sorocaba, e apontada por Weber como uma das mais avançadas na área.

A startup desenvolveu um sistema de monitoramento de rede de abastecimento em tempo real para detectar vazamentos e reduzir perdas. A tecnologia, batizada 4Fluid, consiste em um sistema de gestão e monitoramento de perdas na distribuição de água baseado no tripé sensoriamento, inteligência artificial e suporte à tomada de decisão. “Cada operação tem suas peculiaridades, mas já conseguimos detectar 20 mil pontos suspeitos de vazamento e preservar o equivalente a 20 piscinas olímpicas cheias de água por dia”, diz Marília Lara, sócia fundadora.

Ainda na fase de testes, a tecnologia da Stattus4 ajudou a rede de distribuição de Santa Bárbara D’Oeste, interior de São Paulo, a reduzir a perda de água de 41% para 18%. Um índice considerável, se levarmos em conta que um terço da água encanada escapa por vazamentos no encanamento em todo Brasil. Com um faturamento anual de R$ 2 milhões, a startup atua em 20 cidades, que somam mais de 7 milhões de habitantes.

A EkonoWater oferece soluções para eliminação do consumo de água potável em vasos sanitários e redução de até 20% da geração de esgotos. “Nossa tecnologia ajuda a diminuir o consumo de água potável nos sanitários nas empresas em até 30% e em residências em cerca de 20%, o mesmo percentual registrado no valor das contas”, afirma o sócio-fundador Carlos Rosa. “O próximo passo será reduzir em 50% o custo da solução, que hoje custa R$ 2.000, e ganhar escala junto ao usuário doméstico”. Espaço para crescer é o que não falta.