Soluções sustentáveis no semiárido: parceria entre Caern e Aura Minerals transforma esgoto tratado em insumo estratégico para mineração

Em um cenário de escassez hídrica crônica no semiárido potiguar, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), associada da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe), tem se destacado pela capacidade de inovação e articulação para viabilizar soluções sustentáveis. Um exemplo emblemático dessa atuação é a parceria com a multinacional Aura Minerals e a Prefeitura de Currais Novos, que transformou o esgoto tratado da cidade em um insumo essencial para a extração de ouro.

O projeto, que atende à nova planta da mineradora no município — o Projeto Borborema —, utiliza o efluente urbano tratado pela Caern como fonte de água industrial. A iniciativa reduz a pressão sobre os recursos hídricos da região e inaugura um modelo que alia responsabilidade ambiental, viabilidade econômica e ganhos sociais. O sistema implantado permite o bombeamento de até 80 m³ de efluente por hora, sendo que 90% da água utilizada na operação é recirculada pela mineradora, enquanto os 10% restantes vêm do esgoto tratado da cidade.

“A parceria não apenas resolve um gargalo de abastecimento para a atividade mineral, mas também representa uma mudança de paradigma: o que antes era um passivo ambiental, agora é visto como um ativo econômico”, destaca Thiago de Souza Índio do Brasil, diretor de Operação e Manutenção da CAERN.

Além da redução do impacto ambiental, o modelo também gerou economia para os cofres públicos municipais. Parte dos custos com energia e operação da elevatória são arcados pela Aura Minerals, resultando em uma economia de cerca de R$ 10 mil mensais para a Prefeitura de Currais Novos.

Embora não configure uma Parceria Público-Privada (PPP) formal, o arranjo é fruto de uma engenharia institucional bem-sucedida, demonstrando que o investimento em saneamento pode se conectar a diferentes setores econômicos. O montante total aplicado pela mineradora na infraestrutura hídrica supera R$ 48 milhões, incluindo o sistema de tratamento e uma adutora de grande porte.

A Caern reforça que, apesar dos avanços, o desafio do saneamento no município ainda exige esforços contínuos. Segundo dados do Censo 2022, cerca de 13 mil pessoas em Currais Novos ainda não têm coleta de esgoto, e mais de 11 mil não possuem acesso regular à água tratada. Iniciativas como essa, no entanto, apontam caminhos possíveis para avançar, mesmo em contextos de restrição orçamentária e recursos naturais limitados.

O modelo, que já inspira outros municípios da região, também é replicado em parte pela indústria cimenteira local e pode abrir novas frentes para o reúso de água em contextos urbanos e industriais.

Para a Caern, a parceria é um exemplo claro de como o saneamento básico pode ser vetor de desenvolvimento sustentável, integração interinstitucional e inovação tecnológica.

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