Estadão
23/11/2020

Por Luiz Felipe Simões

A companhia está aumentando a área de vegetação nativa no entorno das reservas e vai construir uma nova barragem, para aumentar sua capacidade hídrica

A crise hídrica no estado do Paraná e o programa de aposentadoria incentivada da Sanepar (SAPR3, SAPR4 e SAPR11), a companhia paranaense de saneamento básico, deixaram suas marcas no balanço do terceiro trimestreda empresa. O lucro líquido caiu 32% na comparação anual, para R$ 165 milhões, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou 19% menor, em R$ 392 milhões. Analistas ouvidos pelo E-Investidor, no entanto, garantem que existe um potencial submerso sob os resultados pouco animadores do último trimestre.

“Os pontos de receita da empresa são o tratamento e distribuição de água e o fornecimento de rede de esgoto. Ao olharmos esses dados, ela segue avançando”, diz Paloma Brum, economista da TORO Investimentos. “Se compararmos os nove meses de 2020 com os de 2019, a companhia continua apresentando crescimento nas ligações, tanto em água tratado quanto esgoto”.

Fundada em 1960, a Sanepar é uma das maiores companhias de saneamento do país, operando sob um regime de economia mista, a exemplo da paulista Sabesp. Mas enfrenta agora a pior crise hídrica do estado do Paraná em 22 anos, diz Anderson Meneses, CEO da Alkin Research. “Já o programa de aposentadoria incentivada aumentou as despesas não recorrentes do grupo e deve custar mais de R$217 milhões”, afirma.

Devido ao baixo índice de chuvas que atinge o Paraná, o governo estadual decretou estado de emergência. A Sanepar colocou em prática um sistema de rodízio, em que o abastecimento é interrompido a cada 36 horas. Nas principais reservas hídricas da companhia, o volume médio de reservação estava em 29,8%.

“Se a empresa libera menos água tratada, vai faturar menos”, diz Paloma. “Isso já tem preocupado a companhia desde 2019, só que no primeiro trimestre deste ano o índice de chuvas veio bem abaixo da média”.

Por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus, a Agência Reguladora do Paraná (Agepar) também vem congelando o reajuste das tarifas de água e esgoto. Em setembro, a correção de 9,62% foi suspensa por 100 dias. “A questão tarifária depende do contexto político e da pandemia”, diz Luís Sales, analista da Guide Investimentos. “Ao mesmo tempo, a inflação já sobe um pouco, e isso também pode impactar”.

Meneses concorda que a tarifa é um problema, mas já foi precificada. “Em todas as estatais, a interferência do estado influencia o preço das ações, mas ainda assim a companhia tem conseguido apresentar bons números”.

Sales acredita que, se houver a retomada das chuvas – como é previsto para essa época do ano -, a questão tarifária vai sair do radar, já que não pode ser postergada por um longo período.

Recomendações

As ações da Sanepar vêm registrando queda 24% no acumulado de 2020, mas Paula Brum explica que isso não é exclusividade da companhia. “Os papéis das outras empresas de saneamento, como Copasa e Sabesp, também sofreram bastante este ano, com baque de 20% e 23%, respectivamente”, afirma. Para ela, a companhia segue promissora no longo prazo . “A empresa passa por uma dificuldade de médio prazo, porém, vem tomando uma série de medidas para ampliar a sua capacidade hídrica”, diz. Entre elas, está o aumento da área de vegetação nativa no entorno das reservas.

Outra medida é a construção de uma nova barragem, para aumentar a capacidade da companhia com a chegada do período de chuvas. Neste ano, os investimentos da Sanepar superam a faixa dos R$ 705 milhões.

O E-Investidor recebeu relatórios de algumas casas de análise para saber quais são as perspectivas para o futuro da Sanepar.

As recomendações de compra para SAPR11 são:

Itaú BBA – Neutra – Preço alvo: R$ 40;

Banco Inter – Compra – R$ 33;

Ativa Investimentos – Compra R$ 34,20;

Toro Investimentos – Compra R$ 37;

Guide Investimentos – Compra R$ 40.