Valor Econômico
01/04/2020

Por Taís Hirata

Impacto é pequeno e não afetará plano de investimentos, afirma presidente

Os consumidores de baixa renda da Sabesp, que a partir de hoje terão isenção nas contas de água e esgoto, representam 1,4% da receita líquida da empresa paulista de saneamento. A perda de faturamento, estimada em R$ 60 milhões, é pequena e será compensada por cortes de custos, segundo o presidente, Benedito Braga.

A isenção de tarifas será concedida às categorias residencial especial e residencial favela, como uma forma de aliviar o orçamento das famílias em meio à crise provocada pelo coronavírus. Serão beneficiadas cerca de 2 milhões de pessoas por um prazo de 90 dias.

O impacto financeiro para a companhia – estatal paulista de água e esgoto- é baixo frente à sua receita anual de R$ 18 bilhões e não afetará nenhum projeto prioritário, como a despoluição do Rio Pinheiros, destacou Braga, que falou com analistas de mercado e jornalistas em uma teleconferência realizada ontem. Tampouco estão previstas demissões por conta da crise, disse.

A empresa também não prevê um desequilíbrio econômico-financeiro – que poderia gerar reajustes futuros na tarifa. O plano, por enquanto, é reduzir custos e despesas para compensar a perda de receita. “Não vemos qualquer dificuldade em remanejar despesas diversas, que poderão ser postergadas para o ano que vem”, afirmou o diretor financeiro, Rui Affonso.

O impacto nos volumes de água e esgoto faturados pela empresa também será limitado por conta da baixa elasticidade do setor, diz ele. Os consumidores comerciais e industriais, que deverão sofrer mais, representam a menor parte da receita – somados, os segmentos respondem por 26% da receita de água e 31% da de esgoto.

Por enquanto, a Sabesp não prevê uma prorrogação do prazo de isenção de tarifas sociais. No entanto, o presidente da empresa destaca que essas decisões têm sido tomadas “um dia após o outro” pelo governo estadual, que é controlador da companhia.

Para os executivos, a Sabesp hoje está mais preparada para enfrentar a pandemia atual do que estava em 2014, quando passou pela crise hídrica em São Paulo. “Iniciamos este ano de forma bem mais robusta do que terminamos ano de 2013”, afirmou o diretor.

Além de uma situação mais confortável nos reservatórios e uma capacidade de produção de água 12% maior, indicadores financeiros de lucratividade e endividamento também melhoraram de 2013 para cá.

A companhia de saneamento também tem se esforçado em reduzir sua forte exposição cambial, para se proteger da volatilidade no cenário global. Ao fim de 2019, 48% da dívida da Sabesp era em moeda estrangeira. O endividamento em dólares somava US$ 1,578 bilhões. A estratégia vinha sendo desenhada desde o ano passado e não é fruto da crise provocada pela pandemia, destacam os executivos.

A ideia é começar a conversão de dívidas por meio de aditamentos de contratos de financiamento com órgãos multilaterais que já previam essa possibilidade – uma operação com custos menores do que operações de hedge tradicionais, segundo Affonso.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial já se mostraram favoráveis aos aditamentos, que estão em negociação, afirmou o executivo. Com isso, a conversão de cerca de US$ 500 milhões já estaria encaminhada.