Folha de São Paulo
27/02/2020

Para altos executivos, acuar o Congresso passa imagem negativa a investidores

Ano novo Com o fim do Carnaval, o ano de fato começa com uma série de incógnitas nas expectativas do setor privado. Além da preocupação com o impacto do coronavírus sobre os negócios, o desenrolar das reformas e a permanência do ministro Paulo Guedes no cargo são os temas de maior interesse que dividem a opinião do empresariado neste momento. O único relativo consenso é o de que uma eventual onda de protestos não contribuiria para melhorar a situação da economia.

Reação O setor industrial, que até agora vinha se mantendo calado, deve começar a se posicionar mais sobre a reforma tributária, segundo Marco Polo Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil. “Tem proposta concreta tanto na Câmara como no Senado, que vai na direção do que é praticado no mundo com imposto sobre valor agregado”, diz.

Na tomada Na indústria elétrica e eletrônica, prejudicada pelo impacto do surto do coronavírus sobre o fornecimento, Humberto Barbato, presidente da associação setorial Abinee, também aposta na tributária. Em sua avaliação, a reforma depende muito mais do Congresso do que do governo.

Choque Sobre a postura de Bolsonaro enviando no WhatsApp o vídeo de apoio ao protesto contra o Congresso, Barbato avalia que não deve comprometer o andamento das reformas. “Não acho que o presidente tenha convocado manifestação. Isso é exploração para colocar fogo no circo. Ele estava comentando um tema que está na ordem do dia”, diz.

Tábua de salvação A dúvida sobre a permanência de Guedes não ajuda, diz José Augusto de Castro, da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). “Temos confiança que ele permaneça, e fortalecendo as reformas porque, sem elas, o Brasil não vai resistir. Temos que apoiar o governo, principalmente, Paulo Guedes por conta das reformas”, afirma.

Adição Em conversas mais reservadas, altos executivos de companhias multinacionais demonstram preocupação com o conjunto de fatos recentes, que abrangem frustração de Paulo Guedes, fala do general Heleno sobre chantagem no Congresso e manifestação marcada para o dia 15.

Memória A avaliação é que são acontecimentos que, como tantas outras confusões deste governo, podem ser esquecidos em uma semana. A simbologia de acuar o Congresso, no entanto, passa uma imagem perigosa aos investidores, que têm visto a atuação dos legisladores e de Guedes como uma das poucas virtudes do Brasil hoje.