Por Suzana Liskauskas – Valor Econômico

31/01/2019 – 05:00

Apesar de o mercado de crédito privado no Brasil ainda ser tímido, as debêntures incentivadas se destacaram nos últimos dois anos e a expectativa é que os mercados primário e secundário ganhem ainda mais força daqui para frente. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que as transações no mercado secundário aumentaram 49% em 2018 (105,4 mil) em relação a 2017 (70,6 mil).

A pulverização das emissões recentes, via fundos de investimento, foi a principal responsável por esse aumento, dizem os especialistas. As debêntures incentivadas são focadas em projetos de infraestrutura, reguladas pela Lei 12.431 e com isenção fiscal para pessoas físicas. Segundo a Anbima, do volume total de debêntures negociadas no mercado secundário em 2018 (R$ 52,9 bilhões), as incentivadas representaram 37% (R$ 19,8 bilhões).

Gabriel Sjlender, gerente de renda fixa da Guide Investimentos, diz que a expectativa para os próximos três anos é de crescimento das emissões primárias, com efeitos benéficos também sobre o mercado secundário futuro. “Hoje, cerca de 90% das emissões estão concentradas nas áreas de rodovias e no setor elétrico. Há espaço para emissões atreladas a saneamento e energia com foco em renováveis”, diz.

Segundo Paulo Leme, sócio do Dias Carneiro Advogados, com a expectativa de retomada do crescimento e a diminuição do apetite do BNDES por grandes projetos de infraestrutura, as debêntures incentivadas são um caminho para financiar esses investimentos. “Porém, o mercado secundário ainda tem muito a crescer e a liquidez desse tipo de ativo não é imediata. O investidor precisa ter em mente que é um papel de médio e longo prazo”, diz Leme.

Na visão de Guilherme Silveira, superintendente-executivo de mercado de capitais e de dívida do Santander, as perspectivas também são muito positivas em 2019: “Espera-se um crescimento de 20% a 30% nos volumes de emissões em relação a 2018. Há uma grande fila de emissões neste início de ano”, afirma.

Apesar do cenário promissor, ele recomenda atenção aos estruturadores das operações. “Deve-se questionar operações com apenas um estruturador e com pouca experiência nesse mercado.”

Rodrigo Franchini, estrategista-chefe da Monte Bravo Investimentos, ressalta que, em 2018, o mercado absorveu todas as emissões. “O mercado de debêntures deve ser o crédito mais barato no país por um tempo ainda”, diz.

De acordo com Rubens Machado, sócio da XP Investimentos, a pulverização de emissões foi um dos fatores decisivos para impulsionar o mercado secundário. “Houve um desenvolvimento muito grande das debêntures incentivadas pela participação dos fundos, tanto de infraestrutura, compradores desse tipo de classe de ativos, como os de crédito”, diz.

Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em gestão financeira da FGV, ressalta que, para a pessoa física, apesar das vantagens, é necessário ter com consultoria. “Não é um produto trivial, o investidor precisa conhecer muito bem a empresa e a capacidade de desenvolvimento do projeto.”

Claudio Sanches, diretor do Itaú Unibanco, afirma que o produto é muito interessante, mas requer análises mais sofisticadas. “Deve-se conhecer o tipo de crédito do investimento e as garantias que ele oferece, que vão além da saúde de crédito da empresa. Vale ainda comparar o período do projeto com a remuneração do Tesouro Direto para o mesmo prazo.”

Por demandar uma análise mais sofisticada, Ricardo Leal, professor de finanças do Coppead /UFRJ, diz que melhor caminho para uma pessoa física investir em debênture incentivada é por meio de fundos. “Trata-se de um investimento interessante para quem já tem carteiras acima de R$ 50 mil e quer diversificar”, completa.

De acordo com Marcelo Mello, vice-presidente da SulAmérica, a diversificação da carteira é fundamental: “O mercado de crédito privado carrega riscos. Ainda que eventos não tão bem-sucedidos sejam raros, o investidor deve ficar atento e montar carteira bem diversificada”.