Valor Econômico
21/02/2020

Por Bruno Villas Bôas e Ana Conceição

IPCA-15 subiu 0,22% em fevereiro, ante alta de 0,71% no mês anterior

A prévia da inflação oficial de fevereiro veio ligeiramente abaixo do esperado por analistas em mais uma amostra de que a tendência dos preços segue benigna, após o choque no custo das proteínas no fim do ano passado. Medidas de núcleos, que retiram itens mais voláteis, seguem abaixo do centro da meta de inflação de 2020. Divulgado ontem pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, desacelerou para 0,22% em fevereiro, de 0,71% em janeiro. Foi o menor resultado para o mês desde a implementação do Plano Real, em 1994. O indicador acumulado em 12 meses cedeu para 4,21%, ante 4,34% em janeiro.

A mediana das projeções de 31 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data apontava para desaceleração do índice para 0,24%. Apesar de um pouco abaixo do esperado, o IPCA-15 trouxe a composição imaginada: os preços das carnes cederam (-5,04%), assim como os de produtos de vestuário (-0,83%) e energia elétrica (-0,12%).

Mas o que chamou atenção dos analistas foram os núcleos consideravelmente baixos. É o caso do IPCA EX-3, que agrega apenas itens selecionados de serviços e bens industriais mais sensíveis ao ciclo econômico, negativo em 0,15% em fevereiro. Em 12 meses, essa medida de variação de preços acumula alta de 2,71%, abaixo dos 3,10% de janeiro.

Já a média das sete principais medidas de núcleo ficou em 0,15% em fevereiro, abaixo do 0,45% no mês anterior, levando o indicador acumulado de 12 meses para 3,04%, abaixo dos 3,20% do mês anterior. Já o núcleo da inflação de serviços cedeu de 0,78% para 0,25% entre os IPCA-15 de janeiro e de fevereiro, em parte por causa da desaceleração da alimentação fora de casa.

“Os números reforçam a visão de que a economia segue com capacidade ociosa bem relevante, principalmente quando olhamos para o IPCA EX-3, mais ligado aos fundamentos. O nível de desemprego e o de utilização da indústria também mostram hiato bem aberto e isso se reflete na medida de núcleo”, disse Julia Passabom, do Itaú.

Pedro França, economista da GO Associados, diz que existe espaço para mais devolução do preço da carne. O economista observou que, no atacado, o valor da arroba do boi ainda está cerca de 15% acima do período pré-peste suína na China, doença que dizimou milhões de porcos no país. O aumento das exportações brasileiras de carne para lá fez disparar o preços internos.

“A devolução do choque da carne se cumpriu e não contaminou outros itens, como já era esperado, o que não deixa de ser boa notícia”, afirma França.

O IPCA “fechado” de fevereiro, a ser divulgado no início do mês que vem pelo IBGE, deverá mostrar convergência da inflação para o centro da meta, de 4%. O IPCA do mês deverá ser de 0,23%, com alta acumulada de 3,99% em 12 meses. Para a MCM Consultores, o índice deverá desacelerar para 0,15%, com queda na conta de luz e dos combustíveis.

De acordo com Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da Ativa Investimentos, o único fator que impediria a inflação de ficar na faixa de 2,5% neste ano é o câmbio, cuja alta é transmitida aos índices de preços, sobretudo, pelos reajustes da gasolina e do diesel praticados pela Petrobras em suas refinarias.

“Esse quadro reforça o que temos falado, de que não adianta discutir agora hiato do produto, com núcleos rodando abaixo de 3%. No cenário mais otimista, o hiato vai se fechar daqui a dois anos”, disse o economista, que prevê dois cortes adicionais da taxa básica de juros (Selic) neste ano, para 3,5% ao ano, aposta que não é consensual no mercado.

O IPCA-15 de fevereiro é o primeiro com a nova cesta de bens e serviços da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, que atualizou os hábitos de consumo, despesas e renda das famílias brasileiras. A inflação oficial ganhou 58 novos bens e serviços com preços pesquisados – 64 deixaram o levantamento. São agora 388 subitens acompanhados.

Thadeu Filho chamou atenção para o elevado números de novos subitens em deflação no mês. São os casos de serviços de higiene para animais (-0,30%), sobrancelha (-0,19%), cabeleireiro e barbeiro (-0,03%), produto para barba (-0,45%), por exemplo. “Fiquei impressionado e influenciou o número de deflações nos itens novos da POF”, disse