Valor Econômico
19/11/2019

Por Sérgio Tauhata

Investidores estão inundados de dinheiro e passaram a comprar sonhos em lugar de lucros no mercado acionário, aponta gestor

O mundo caminha para um ambiente em que os extremos do populismo se tornarão ainda mais radicais, e no qual haverá “uma ausência de efeitos das políticas monetárias”, segundo o bilionário Ray Dalio, em entrevista à rede americana “ CNBC ”. O co-presidente da Brigdewater Associates, maior “hedge fund” do mundo, com US$ 160 bilhões em ativos sob gestão, classificou o período no qual os mercados estão entrando como desafiador.

 “Os bancos centrais globais não têm como baixar mais as taxas e vamos entrar em um período mais desafiador de uma batalha entre extremos no populismo. Será um ambiente que terá grande impacto nos mercados, com ausência de efeito da políticas monetárias e exacerbação de conflitos que temos visto no mundo.” Na avaliação do investidor, “estamos indo em direção a um ambiente como uma guerra”.

O gestor chamou novamente a atenção para os desequilíbrios gerados pela política de dinheiro fácil adotadas pelos BCs. “Os investidores estão inundados de dinheiro, comprando retornos muito baixos ou sonhos em lugar de lucros no mercado de ações”, disse.

Dalio reiterou que, apesar da elevada liquidez nos mercados, o mecanismo de transmissão de riqueza “está quebrado”. Segundo o copresidente da Bridgwater, o sistema atual mantém o dinheiro circulando no mercado financeiro, sem escorrer para as camadas mais baixas por meio de distribuição da lucratividade e do acesso ao crédito barato.

O gestor ressaltou ser preciso “produzir mais oportunidades iguais” a todas às pessoas. “Há muitos bons investimentos [para isso], como em educação, que podem produzir maiores retornos”, disse. De acordo com o bilionário, a solução para os desequilíbrios é “criar produtividade” para elevar a geração de riqueza e reduzir a desigualdade.

Conforme Dalio, “o aprofundamento das taxas negativas está se esgotando e vai levar a uma necessidade de coordenação entre as políticas fiscal e monetária”. Mas, diferentemente de várias vozes que defendem esse tipo de solução, o gestor considera essa combinação “algo muito perigoso”, ao incentivar a ampliação dos déficits orçamentários.

 Para Dalio, no futuro “teremos déficits cada vez maiores e teremos de financiá-los e isso terá um impacto sobre o câmbio no longo prazo”. Se for necessário subir impostos para financiar esses grandes déficits, “isso mudaria a natureza do mercado”.

Apesar da visão crítica sobre as ações dos BCs, Dalio reforçou não ver como resposta uma reversão dos estímulos. Para o gestor, seria apenas criar mais problemas, porque já existe uma dinâmica econômica e de mercados estabelecida. “Não existe uma solução só, mas acho que seriam necessárias várias ações fragmentadas”, em uma espécie de reengenharia de um sistema que produz desigualdades para outro que impulsione a produtividade na economia.

 Dalio também afirmou não enxergar os mercados excessivamente comprados ou à beira de uma ruptura. “Há muito dinheiro lá fora colocado pelos BCs e os retornos de todas as classes de ativos caíram para níveis mais baixos. Enquanto continuar essa dinâmica, não vejo uma ruptura. Há muitas coisas boas por trás disso e não vejo por que se perturbar com as coisas ruins.”

Na entrevista à “CNBC”, Dalio alertou ainda para o fato de que o maior erro dos investidores do varejo no momento atual seria acreditar que os mercados que subiram recentemente são “oportunidades melhores”, em lugar de vê-las como “oportunidades caras”.