Valor Econômico
29/01/2020

Por Maria Luíza Filgueiras

Risco econômico do coronavírus e volatilidade não alteraram cronogramas de empresas na bolsa

O soluço nos índices acionários no mundo esta semana e o receio sobre os impactos do coronavírus na economia asiática não foram suficientes para esfriar os ânimos de bancos, empresas e gestores no Brasil com novas operações de bolsa. Seis ofertas de ações já estão na rua, para serem precificadas nesta e na próxima semana e o ritmo segue intenso nessas conversas e na preparação para as próximas operações.

Esta semana, fecham as ofertas subsequentes (follow-ons) de Ânima Educação e Positivo, que ontem já tinham demanda suficiente para viabilizar suas operações.Fortale Na semana que vem, serão mais quatro ofertas – os IPOs da construtora Mitre Realty e da empresa de tecnologia Locaweb e a mega oferta subsequente (follow-on) da Petrobras, seguidas do IPO da incorporadora Moura Dubeux. Para operações futuras, a Petrobras acertou esta semana o sindicato de bancos que fará a oferta de suas ações na BR Distribuidora e a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) também definiu seus coordenadores no IPO.

“Não estamos preocupados com efeito de coronavírus no momento. Os investidores locais continuam saindo da renda fixa, buscando maior prêmio de risco na bolsa e olhando os fundamentos das empresas, mais do que o cenário externo”, diz um diretor de banco. “O que está com mais ou menos demanda diz respeito à história da companhia e preço”, complementa outro executivo.

Uma das razões do ritmo contínuo é a forte presença de investidores locais nas operações, quando os estrangeiros parecem mais suscetíveis às notícias da Ásia. Mas se houver forte piora dos índices ou prolongamento desse movimento, bancos e gestores veem possível mudança de “timing”. “Aí pode afetar principalmente os follow-ons”, diz uma fonte. Na segundafeira, o Ibovespa chegou a cair mais de 3%, mas ontem subiu quase 2%.

Para alguns gestores e analistas, essa volatilidade abre uma oportunidade de correção de preços, que já estavam muito esticados – renovando o apetite de compra. A Nord Research há 3 horas chamou a reação dos mercados sobre o vírus de “histeria coletiva”. “A epidemia é um risco. A histeria é uma oportunidade”, escreveu o analista Ricardo Schweitzer a clientes. “A melhor maneira de mitigar risco é comprar barato. E andava difícil comprar barato ultimamente”.

A demanda por ações no follow-on da Ânima, que vai definir preço hoje, chegou perto de 10 vezes a oferta, apurou o Valor. A euforia de investidores surpreendeu até envolvidos na operação. Além do interesse pelo setor de educação, investidores apontam aumento de liquidez da empresa – motivo que deixava alguns fundos fora do papel. Acionistas da companhia também estão aderindo à operação primária para evitar forte diluição, disse uma das fontes. A Positivo, que define preço da oferta amanhã, tem o dobro de demanda. “Com esse volume de reservas, as ofertas se viabilizam”, diz uma fonte.

Nas ofertas da semana que vem, as recomendações de analistas e avaliações de gestores têm variado entre comprar e ficar de fora – mas por preço alto, comparativo com concorrentes, e não pelo risco de bolsa ou de ventos externos, ressaltam dois gestores. A casa de análise Levante, por exemplo, indica comprar ações da Mitre e ficar de fora do IPO da Locaweb, enquanto a Nord acha os preços da oferta da Mitre altos demais.

A mais relevante delas, no entanto, é a operação de Petrobras – no follow-on, o BNDES vai vender cerca de R$ 23 bilhões em ações da petrolífera. Em evento promovido pelo banco Credit Suisse ontem, o sócio fundador da gestora Occam, Eduardo Rocha, citou a operação como “uma oferta grande que pode ser uma boa oportunidade”. Mas, pelo tamanho da oferta, a participação de estrangeiros é determinante, complementou outro gestor, que preferiu anonimato.

Na oferta da BR Distribuidora, serão sete bancos no follow-on: o líder Morgan Stanley, Itaú BBA, Bank of America, Goldman Sachs, J.P. Morgan, Citi e XP. A intenção inicial da companhia é realizar a oferta entre o fim de fevereiro e início de março, mas ainda não houve aprovação da oferta no conselho da estatal e por isso pode haver ajuste de cronograma, apurou o Valor. Em nota, a Petrobras diz que iniciou estudos para a venda das ações, mas afirma que ainda não há qualquer deliberação pelos órgãos internos da companhia sobre tamanho ou prazo.

A Petrobras já vendeu parte de suas ações na BR, mas permaneceu com 37,5%, que vale R$ 12,7 bilhões. Na Compesa, o IPO vai buscar pelo menos R$ 2 bilhões, coordenado por BTG Pactual, Bank of America e Bradesco BBI, apurou o Valor.