Saneamento: presidente da Aesbe se diz surpreso com saída de Sabesp e Copasa e defende decretos

Estadão/Economia
Por Bruno Luiz


Segundo executivo, críticas às mudanças no marco do saneamento são uma ‘narrativa’ em defesa do setor privado em meio a uma ‘disputa por espaço’

pedido de saída das empresas Copasa e Sabesp da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe) pegou de surpresa o presidente da entidade, Neuri Freitas. Ao Estadão/Broadcast, ele afirmou que a desfiliação não foi discutida previamente nem informada com antecedência. “A gente não tinha nenhuma sinalização e nem tratado nada nesse sentido”, disse Freitas.

A Sabesp, companhia de saneamento do Estado de São Paulo, anunciou ontem à noite a desfiliação da Aesbe, um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinar um decreto com mudanças no Marco Legal do Saneamento. A empresa, por meio de nota, disse acreditar que a visão da associação é alinhada a instrumentos políticos e contraria a necessária segurança jurídica para o setor, sendo incoerente com o avanço do saneamento no Brasil.

Copasa seguiu a decisão da Sabesp e, em comunicado enviado hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), também pediu desfiliação da Aesbe por motivos semelhantes. A companhia disse que vai pleitear entrada na Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon).

Com o decreto que atualiza a regulamentação do Marco Legal, o governo federal abre caminho para que estatais estaduais continuem operando os serviços de água e esgoto sem licitação, por meio dos chamados contratos de programa. A norma gerou questionamentos de especialistas e da iniciativa privada, para quem o dispositivo pode favorecer as estatais.

Para Neuri Freitas, o decreto não traz retrocessos e vai acelerar investimentos no setor, favorecendo a meta de universalização dos serviços de água e esgoto até 2033. Ele avalia que as críticas à regulamentação são uma “narrativa” em defesa do setor privado por haver “disputa por espaço” entre empresas estaduais e parte do mercado interessada em contratos da área de saneamento.

“O que o decreto fez foi retirar regras que muitas vezes limitavam municípios e Estados, que não podiam fazer reequilíbrio de contrato (de saneamento) com aumento de prazo. Isso acaba gerando crítica maior do setor privado porque se, por exemplo, o contrato da estatal com o município é encerrado daqui a cinco anos, ele tem uma oportunidade para conseguir o contrato com a abertura de nova licitação. O privado vê restrição de espaço para ele se a concessionária e o municipal quiserem prorrogar”, avaliou.

Freitas lembrou ainda que o decreto não veda a privatização de estatais de saneamento – Sabesp e Copasa fazem estudos para venda da participação dos Estados nas empresas à iniciativa privada. “A gente vive narrativas dos setores que melhor convêm. ‘Ah, porque as companhias querem isso, não querem que o privado participe’. A Aesbe nunca foi contra ninguém. Quem quiser privatizar, está lá na diretriz. É uma decisão do Estado.”

O presidente da Aesbe afirmou que não fará gestão para trazer Sabesp e Copasa de volta ao quadro de associados da entidade. “Para sermos associados, todos precisam querer ser associados. Se a gente tem uma gestão na Sabesp que não quer, paciência. Temos outros 24 associados para trabalharmos e pensarmos no setor de saneamento. Cada um é responsável por suas decisões.”

Procurado, o governo de São Paulo, que é acionista controlador da Sabesp, respondeu que a postura da entidade não é coerente com o avanço do setor. “A saída da Sabesp, como comunicado na data de ontem, se deu uma vez que a Companhia entende que as posições recentes da entidade não são coerentes com o avanço do saneamento no Brasil. O Governo de São Paulo entende na mesma linha do já exposto pela Sabesp e preza pela eficiência e governança para proporcionar investimentos no setor”, disse por meio de nota ao Broadcast.

A assessoria do governador Tarcísio de Freitas relembrou ainda que estuda em conjunto com o Banco Mundial a desestatização da companhia de saneamento, “com o objetivo de antecipar investimentos em saneamento, universalizar a prestação dos serviços, garantir uma tarifa justa aos usuários e, ainda, estimular mais investimentos em segurança hídrica ao Estado de São Paulo.”

Compartilhe

Confira também nossas publicações

Veja todas nossas
edições anteriores