Entre os setores mais beneficiados estão agronegócio, logística e indústria, diz especialista

Por Ediane Tiago — Para o Valor, de São Paulo
27/09/2019 05h01

A instalação de redes de quinta geração (5G) exige mobilização social e ultrapassa a discussão técnica. Muito mais do que uma atualização de versão, a 5G promete uma revolução, com impacto direto no desenvolvimento econômico.

“Os recursos da tecnologia vão destravar projetos relevantes para a sociedade e gerar valor econômico”, afirma Francisco Soares, diretor sênior de relações governamentais da Qualcomm. O executivo compara a chegada da 5G ao advento da eletricidade. “Os recursos da rede ampliam a conectividade e permitem aplicações críticas como telemedicina, automação robótica, cidades inteligentes e veículos autônomos”, lista.

Uma das demandas é ampliar o uso de postes de iluminação e semáforos, entre outros equipamentos

Geraldo Araújo, consultor sênior da Accenture, explica que a principal diferença das redes 5G está na capacidade de atender as demandas do setor produtivo, impulsionando a indústria 4.0 e resolvendo entraves que atrasam o avanço da economia digital no país. “É claro que os consumidores serão beneficiados, mas o impacto mais significativo será sentido pelas empresas, que terão à sua disposição infraestrutura para inovar.” Entre os setores mais beneficiados estão o agronegócio, a logística e a indústria. “São segmentos que não possuem conectividade adequada ao salto tecnológico exigido por seus negócios”, completa Araújo.

A transformação promete ser tão intensa que o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) realizou uma consulta pública para apoiar a formulação de uma estratégia nacional para redes de quinta geração. Ao final da consulta, a pasta recebeu quase 50 contribuições, vindas de operadoras de telecomunicações, empresas fornecedora de equipamentos, associações de classe, sindicatos e pessoas físicas. Os documentos sugerem alternativas para questões como destinação da radiofrequência; outorga e licenciamento; pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I); aplicações; e segurança no ambiente 5G.

Entre as sugestões enviadas pela Qualcomm, Soares destaca as licitações das faixas de frequência – insumo essencial na telefonia móvel. “Para ter uma rede eficiente será preciso alocar e licenciar o espectro de acordo com a aplicação”, diz. Isso acontece porque soluções como carros autônomos e telemedicina exigem recursos diferentes daqueles requeridos pelo tráfego comum de dados. Portanto, não dá para destinar uma faixa inteira para, então, a operadora decidir o que vai fazer. “A 5G permite gerenciamento inteligente das faixas e é preciso entender o uso delas antes de licitar”, reforça.

Outra questão levantada pela Qualcomm é a garantia para propriedade industrial. “O processo para registro de patentes é moroso no país e represa as atividades de PD&I”, constata Soares. A empresa também defende uma revisão da carga tributária – demanda antiga do setor – para baratear os preços e ampliar o acesso aos serviços. “Na economia digital, telecomunicações são um insumo básico, como eletricidade e saneamento”, explica.

Para Ricardo Hobbs, vice-presidente de estratégica e novos negócios da Vivo, a consulta pública vai mapear os desafios e oportunidades da 5G para o país. “A 5G vai exigir investimento elevado. O leilão das frequências não pode ter viés arrecadatório”, defende. O compartilhamento da rede também é um ponto que merece atenção, na visão do executivo. “Os acordos devem ocorrer por livre negociação, em condições equilibradas. O leilão não deve prever obrigações adicionais de compartilhamento.”

As contribuições da Oi se concentraram em sugestões sobre o uso de infraestrutura, virtualização da rede (que permite o surgimento de novos modelos de negócio) e na criação de um ecossistema voltado para a instalação dos serviços. Carlos Eduardo Monteiro de Carvalho, diretor de regulamentação, atacado e assuntos institucionais apontou a necessidade de se reduzir as barreiras tributárias e legais para o 5G.

Entre as demandas está a de ampliar o uso de postes de iluminação, semáforos, entre outros equipamentos urbanos, para a instalação dos equipamentos da rede. “A implementação da infraestrutura de fibra óptica e a instalação de antenas esbarram em leis municipais”, explica Carvalho. O executivo ainda defende a elaboração de regras para a exploração dos serviços de internet das coisas – como a priorização do tráfego nas aplicações críticas – e de políticas públicas capazes de estimular o avanço da tecnologia.