Estadão
13/01/2019

O mercado financeiro continua movimentando os negócios em marcha lenta, atento aos lances do conflito entre Estados Unidos e Irã na região do Golfo Pérsico, após o ataque americano que matou um comandante militar iraniano e do revide iraniano com bombardeios sobre bases militares dos EUA no Iraque.

Os investidores permanecem cautelosos e não baixaram a guarda nem mesmo após a fala do presidente Donald Trump de que trocará o temido ataque militar por pesadas sanções econômicas contra o país persa. Para uma parte dos analistas, a mudança de posição de Trump representa uma clara redução dos riscos, sobretudo para o mercado financeiro.

O responsável pela Mesa de Renda Variável da ALL Investimentos, Daniel Meireles, diz que, apesar do clima de tensão criado pelo conflito entre EUA e Irã e dos cinco pregões consecutivos de queda, a semana que passou não foi tão negativa para o mercado de ações como sugeria inicialmente. “As quedas foram apenas residuais, quase sempre no fechamento.”

De acordo com Meireles, as incertezas com os eventos no Oriente Médio e a falta de novidades positivas no cenário doméstico estimularam os investidores a vender as ações para embolsar os lucros obtidos em 2019, já que a bolsa acumulou uma valorização de 31,58% em 2019 e ocupou a liderança no ranking de melhor rendimento.

O movimento de venda de ações, avalia, pode ter continuidade até que surjam fatos novos positivos para um mercado que continua com expectativas positivas também para este ano. Análise da XP Investimentos indica que o Ibovespa (Índice Bovespa, principal indicador da B3) pode chegar aos 140 mil pontos no fim de 2020, acenando com um potencial de alta em torno de 22% até o encerramento do ano. “A perspectiva é positiva, mas não se espera uma valorização linear, embora, no geral, o desempenho esperado para a bolsa de valores seja muito bom.”

As incertezas com o clima de tensão no Golfo Pérsico é um dos fatores que têm dado gás ao dólar, que voltou a flertar o nível de R$ 4,09, após fechar o ano rondando o patamar de R$ 4,05. “Como moeda forte, o dólar se fortalece em um momento desses, sinal também de que o investidor deve acostumar-se com uma cotação mais alta da moeda.”

A Bolsa de Valores de São Paulo ou B3 fechou a sexta-feira com queda de 0,38%, em 115.503,42 pontos, e o dólar comercial com alta de 0,19%, cotado por R$ 4,09.

Diversificação

O administrador de investimentos Eduardo Santalucia também está otimista com a perspectiva para a bolsa de valores em 2020 e propõe uma diversificação com a distribuição bem balanceada dos recursos em três segmentos.

Uma carteira que tenha 40% dos recursos em títulos (papeis de renda fixa e ações) no exterior; 20% em renda variável, em ações da bolsa de valores no mercado doméstico, e os restantes 40% em opções diversificadas em renda fixa, desde títulos públicos até títulos de crédito privados.

“A renda variável é indicada para o investidor que tem perfil mais agressivo ou mesmo para o moderado que suporte um mercado de volatilidade e oscilação de cotações dos papeis, como a bolsa.”

Parte dos recursos destinados à renda variável, cerca de 5%, poderia ser alocada em fundos imobiliários, sugere. Santalucia prevê, contudo, que o desempenho dos fundos imobiliários este ano deve ser mais discreto, depois da elevada rentabilidade acumulada em 2019.

Outra indicação do administrador de investimentos na bolsa de valores são as ações de empresas boas pagadoras de dividendo. Santalucia diz que, na escolha, é preciso distinguir ações com bom potencial de valorização daquelas potencialmente boas pagadoras de dividendos. “Ações de empresas do setor de varejo são vistas como boa opção de investimento, por causa da esperada valorização do papel no mercado, mas não necessariamente com fonte pagadora de bons dividendos.”

 

Atrás dos dividendos

A Lei das Sociedades Anônimas (Lei das S/As, de 1976) determina que empresas com ações negociadas em bolsa de valores repartam pelo menos 25% de seus lucros com os acionistas, investidores que possuem papeis da companhia. É a distribuição de dividendos.

Para ajudar quem investe pensando embolsar parte dos resultados das companhias, o gerente de Relacionamento Institucional da Economatica, Einar Rivero, fez um levantamento que aponta as ações com potencial de bons resultados em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) em 2020.

A pesquisa para a amostra levou em conta condições como obtenção de lucro em 2018 e em nove meses de 2019; a exigência de que o resultado nesse período tenha sido pelo menos 75% do lucro acumulado em 2018; a política de distribuição de lucros da empresa em 2020 seja equivalente ou superior à de 2019.

O levantamento relaciona as ações com dividend yield projetado acima de 4% para 2020. O porcentual serve de corte em relação à taxa básica de juros, Selic, que está em 4,50% ao ano, no momento. Todas as ações da lista acenam, portanto, com um rendimento acima do juro básico apenas com a distribuição de dividendos, independentemente de sua alta ou queda de preço em bolsa.

A relação das candidatas a boas pagadoras de dividendos (21, no total) destaca três segmentos da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3: o de bancos, com oito ações; o de energia elétrica, com quatro, e água e saneamento, duas. Os demais sete segmentos têm uma ação cada um.

A ação com melhor projeção de dividend yield para 2020, no levantamento da Economatica, é a do ItauUnibanco ON (ITUB3), projetado em 8,76%, ligeiramente abaixo do dividend yield de 9,34% que remunerou com dividendos e JCP em 2019. As ações do setor de bancos marcam presença com seis entre as dez da amostra com maior potencial de distribuição de dividendos e JCP.

Ações com potencial de pagamento de dividendos em 2020, de acordo com levantamento da Economática.