Valor Econômico

Ex-secretário especial da Previdência e Trabalho substitui Gustavo Canuto que vai presidir a Dataprev

Por Mariana Ribeiro, Lu Aiko Otta, Edna Simão, Daniel Rittner, Fabio Murakawa, Raphael Di Cunto e Vandson Lima

Principal articulador da reforma da Previdência, o ex-secretário especial da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, foi nomeado ontem para o posto de ministro do Desenvolvimento Regional. Marinho substituirá Gustavo Canuto, que passará a presidir a Dataprev, estatal responsável pelo processamento de informações do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Marinho ficará agora responsável por gerir os visados recursos do Minha Casa, Minha Vida e liderar a reformulação do programa, um plano do governo. Ele será substituído na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho por seu secretário adjunto, Bruno Bianco, que também participou ativamente das discussões da reforma da Previdência.

Canuto, por sua vez, chega à estatal em um momento em que o governo busca uma solução para reduzir a fila do INSS. A análise dos processos está travada desde a aprovação da reforma da Previdência, no fim do ano passado. Após a exoneração, o presidente Jair Bolsonaro disse que o ex-ministro irá “cumprir uma missão na Dataprev”.

Servidor da carreira de especialista em políticas públicas e gestão governamental, Canuto havia sido chefe de gabinete e secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional no governo Michel Temer. Bolsonaro juntou a pasta com o Ministério das Cidades, responsável por questões de habitação e saneamento básico, transformando-a no ministério com o maior orçamento de toda a Esplanada.

A cadeira de Canuto sempre foi visada pelo Congresso pelo papel estratégico no repasse de recursos a Estados e municípios. Por isso, tanto no Senado quanto na Câmara, era frequente o burburinho de que deputados do Centrão e senadores das regiões Norte e Nordeste estavam insatisfeitos e queriam a substituição de Canuto por um nome mais próximo da classe política.

Nos bastidores, Canuto também entrou em embates com a equipe econômica desde meados do ano passado. Em conversas reservadas, auxiliares do ministro Paulo Guedes o criticavam Cláudio Gonçalves Couto: O bolsonarismo autofágico Troca-troca ministerial e corporativismo do Congresso sempre que encontravam uma oportunidade. Um dos alvos da reclamação era sua suposta falta de empenho na defesa de um modelo mais “privatizante” dos serviços de fornecimento de água e tratamento de esgoto, no âmbito do novo marco legal do saneamento. Guedes chegou a falar, em reunião com todos ministros, que considerava a pasta do Canuto inútil e que, por ele, faria tudo por PPPs, sem precisar de um ministro para isso.

Outro ponto de atrito foi a reformulação do programa Minha Casa, Minha Vida. Canuto vinha insistindo na criação de um sistema de vouchers para que os beneficiários da faixa 1 – até R$ 1,8 mil de renda mensal familiar – pudessem arcar com a compra ou reforma de suas casas. Esse modelo era tido como inviável por boa parte da equipe econômica, por causa das dificuldades de fiscalização e prestação de contas, mas o então ministro jamais abriu mão da ideia.

Pesava ainda o perfil técnico de Canuto. Numa pasta com grande concentração de emendas parlamentares e ações em municípios do interior, ele resistia a se comprometer com projetos que não poderia honrar financeiramente, mas importantes para políticos interessados em fazer promessas nas suas bases eleitorais.

Marinho, por sua vez, é conhecido pela boa relação com o Congresso e pela capacidade de articulação política. Filiado ao PSDB, o ex-deputado federal foi relator da reforma trabalhista durante o governo do ex-presidente Temer, em 2016, e não foi reeleito nas últimas eleições.

O setor da construção, segundo uma fonte ouvida pelo Valor, comemorou a troca. A avaliação é de que Marinho tem muito trânsito no governo e uma boa interlocução com o Ministério da Economia, o que Canuto não tinha. Para o setor, o ministro era muito cortês, mas não conseguia resolver os problemas do setor relacionados principalmente aos pagamentos do Minha Casa, Minha Vida. “O FGTS parou”, frisou a fonte.