Correio Braziliense
Por 19/05/2020

Segundo o levantamento, mais de 60% das favelas ficam a menos de dois quilômetros de hospitais

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) revelou uma situação alarmante nos lares brasileiros: mais de 5 milhões de domicílios estão localizados nos chamados aglomerados subnormais — caracterizados por um padrão urbanístico irregular, falta de serviços públicos essenciais e localização em áreas com ocupação irregular. Os dados apontam também que, de um total de 13.151 desses aglomerados, apenas 827 estariam a mais de 5 quilômetros de hospitais.

Agravados pela realidade atual, esses dados apontam uma grande vulnerabilidade de uma parcela significativa da população a sofrer mais com o novo coronavírus. A falta de infraestrutura dentro das favelas, por exemplo, torna mais difícil a higiene e o isolamento social. Cayo Franco, gerente geral de Geografia do IBGE observa: “Há bairros pobres que não foram classificados como aglomerados subnormais, seja porque os moradores têm a posse da terra ou alguns serviços de saúde e saneamento. O que apresentamos no levantamento é uma dimensão da vulnerabilidade, no caso, os mais vulneráveis dos vulneráveis”.

Apesar de o estudo mostrar que boa parte da população vive em condições precárias, do ponto de vista socioeconômico e de saneamento e moradia, os dados também apontam que quase 65% dos aglomerados subnormais estão localizados a menos de 2 quilômetros de distância de hospitais. A informação, entretanto, não chega a ser um alívio frente à pandemia que o mundo enfrenta, uma vez que os dados não analisam se estes hospitais estão aptos ao atendimento de pacientes com a covid-19.

“A grande maioria dos aglomerados subnormais está próxima de unidades de saúde. Ou seja, o problema não é distância das unidades de saúde, mas, talvez, a falta de estrutura nessas unidades. Não sabemos detalhes dessas estruturas”, comentou o coordenador de Geografia e Meio Ambiente do IBGE, Cláudio Stenner.

Entre os estados com maior proporção de domicílios nesses aglomerados está o Amazonas, com 34,59%. Também no Norte, Belém, capital do Pará, tem mais da metade das habitações nesses locais precários, representando 55,5%. Ainda na região, o município de Vitória do Jari, no Amapá, tem quase três quartos da população vivendo nessa realidade.

Apesar dos números altos que o norte apresenta, é no sudeste que o número total de casa nessas condições cresce. No Rio de Janeiro são 453.571 domicílios em áreas precárias. Só para se ter uma ideia, a Rocinha, maior favela do país, acumula sozinha 25,7 mil domicílios. Em São paulo o número é ainda maior, são 529.921. Rio das Pedras, no Rio, com 22.509; e Paraisópolis, em São Paulo, com 19.262 domicílios em aglomerados subnormais, também apresentam números altos. No centro-oeste,próximo à capital federal também chamam a atenção a comunidade do Sol Nascente, no Distrito Federal, que tem 25.441 casas.