Valor Econômico
14/04/2021

Por Jacilio Saraiva

Traços valorizados incluem empatia e fácil adesão às ferramentas de tecnologia

Por conta do distanciamento social, o perfil buscado para as lideranças das empresas ganha novas nuances. Agora, headhunters e chefias de RH garimpam gestores conhecidos pela boa comunicação com as equipes, além de perseguirem características valorizadas em tempos de home office, como a empatia e a fácil adesão às ferramentas de tecnologia.

Significa agir com clareza para explicar tarefas à equipe e saber que esse diálogo é de mão dupla, explica Antônio Salvador, líder de negócios de career da consultoria de RH Mercer Brasil. A chefia, diz o especialista, além de conduzir, deverá ouvir com empatia as demandas dos times. “É isso que gera engajamento e torna um líder diferente de um simples chefe.”

Esse traço atualizado das lideranças ficou evidente nos resultados da pesquisa “Tendências Globais de Talentos 2020-2021”, realizada pela Mercer com organizações de 44 países, incluindo o Brasil. O estudo indica a necessidade de gestão mais humanizada, em que boa parte dos profissionais teve de se acostumar a uma nova realidade, de produção remota. Entre os respondentes, 28% afirmam que as áreas de RH vão transformar rotinas para criar departamentos mais ágeis e 16% pretendem acelerar programas que permitam às equipes se adaptar melhor a novas versões de expediente.

Renato Bagnolesi, managing partner e líder da prática de busca executiva C-Level (diretores e presidentes) da consultoria de RH Fesa, diz que o gestor precisa ser capaz de selecionar as melhores competências entre os gerentes que comanda. “Caminhamos para uma liderança mais descentralizada”, resume.

Para isso, saber se ajustar rapidamente aos novos modelos de trabalho pode definir o futuro de uma carreira. Na opinião de Marcelo Apovian, sócio da Signium Brasil, consultoria de recrutamento para o C-Level, os executivos de perfil tradicional, que fazem análises de gestão apenas por hora trabalhada, sem mensurar a produtividade dos colegas, perderam espaço. Estão em alta competências como a rápida absorção do gerenciamento a distância e a expertise para atuar com times maiores, compostos de integrantes com diferentes perfis, explica.

Mário Custódio, diretor da área de recrutamento executivo da consultoria Robert Half, lembra o exemplo de um diretor de uma multinacional, com mais de cem pessoas sob comando direto, que teve, em 2020, a primeira experiência com home office. Ele aproveitou a novidade para se aproximar mais dos funcionários, com “cafés virtuais”, diz. Também encarou desafios, como estudar um idioma, que havia ficado de lado por conta da correria do dia a dia.

“Executivos em cargos de liderança precisam mais do que nunca estar à frente das tendências do mercado e entender os conhecimentos necessários para melhorar o desempenho”, explica

Custódio afirma que o número de vagas intermediadas pela consultoria no primeiro trimestre foi cerca de 5% maior ante o mesmo período de 2020. “Isso sem considerar as posições para projetos, que cresceram na mesma base comparativa, com as empresas apostando nesse tipo de contratação a fim de manter as entregas e não sobrecarregar as equipes”, diz. A maioria das oportunidades seguiu para setores como e-commerce, agronegócio e saúde.

De acordo com o 15º Índice de Confiança Robert Half, relatório divulgado em março que mede a percepção de três categorias de profissionais (empregados, desempregados e recrutadores) sobre o mercado de trabalho, a perspectiva, mesmo com a economia patinando, é levemente otimista.

Entre os recrutadores, 59% consideram que a intenção de fazer contratações neste ano se manterá igual a 2020 e 31% deles dizem que elas devem aumentar. A sondagem foi feita em fevereiro, com 1.161 profissionais. “Uma parte das contratações é de substituição de funcionários que não conseguem se adaptar ao momento”, diz Ricardo Basaglia, diretor-geral da PageGroup.