Valor Econômico
26/01/2021

Por Lucas Hirata

Índice teve a sua quinta baixa consecutiva – a maior sequência negativa desde janeiro de 2020 – em um movimento conduzido pela desvalorização de bancos

O Ibovespa até deu sinais de que interromperia a sequência de quedas nesta terça-feira e chegou a subir mais de 1% durante a manhã. No entanto, as persistentes dúvidas sobre a situação econômica voltaram a pesar no índice e levaram a sua quinta baixa consecutiva – a maior sequência negativa desde janeiro de 2020 – em um movimento conduzido pela desvalorização de bancos.

Após ajustes, o principal índice da bolsa brasileira fechou em queda de 0,78%, a 116.464 pontos, bem perto das mínimas do dia, quando chegou a 116.109 pontos. Para efeito de comparação, no melhor momento do pregão, o índice chegou a 119.167 pontos. O giro financeiro é de R$ 26,6 bilhões.

“O noticiário ainda está muito agitado em torno da vacinação e estamos bem perto das eleições para as presidências do Congresso. Tudo isso deixa a bolsa mais volátil”, explica o analista Henrique Esteter, da Guide. Ele destaca que o pregão até começou mais positivo com comentários do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que defenderam uma política mais fiscalista. No entanto, essa ímpeto perdeu força ao longo do dia.

Hoje, as ações de bancos ficaram entre as principais quedas do Ibovespa, seguindo a correção dos últimos dias. Inclusive, o segmento agora está sendo visto com mais cautela após o bom desempenho no começo de 2021. “A recente alta do preço das ações, o espaço limitado para revisões adicionais de lucros pelo mercado, em nossa opinião, e as precificações em níveis razoáveis nos fazem voltar a uma postura mais cautelosa no setor”, dizem os analistas do Bradeco BBI.

Assim, o Bradesco BBI revisou as recomendações para Itaú Unibanco e Santander Brasil, de desempenho acima do mercado para neutro, enquanto manteve Banco do Brasil em neutro.

Hoje, Itaú Unibanco PN fechou em queda de 3,34% e Banco do Brasil ON perdeu 2,67%. Já Bradesco ON caiu 2,14%, Bradesco PN perdeu 2,40% e as units do Santander recuaram 3,23%.

No noticiário corporativo, as atenções se concentram ainda na saída de Wilson Ferreira Junior da Eletrobras e a chegada do executivo no comando da BR Distribuidora.

As ações da BR Distribuidora lideraram, de longe, os melhores desempenhos do Ibovespa, com alta de 9,57%, diante de perspectivas favoráveis sobre a chegada de Wilson Ferreira Junior no comando da companhia, após o executivo deixar a Eletrobras.

De acordo com analistas, Ferreira deve contribuir para definir um novo escopo de trabalho da empresa e pode até melhorar a possibilidade de uma maior separação em relação a Petrobras.

Os analistas do BTG Pactual afirmam que a chegada do executivo “pode até abrir caminho para a Petrobras vender sua participação restante de 37,5%” na BR Distribuidora. O momento da venda das ações é decisão exclusiva da estatal e depende de “preços e condições de mercado”, mas “sentimos que a chegada de Ferreira a BR Distribuidora poderia fornecer exatamente isso: um sentimento positivo em relação à história pós-turnaround da BR Distribuidora, ou pelo menos que seu histórico comprovado no setor de energia poderia desencadear aspirações de crescimento novas e mais ambiciosas, o que poderia significar uma plataforma de energia mais diversificada”, dizem.

Assim, complementam os analistas do BTG, a história de rendimento (yield) da BR Distribuidora poderia se transformar em mais um negócio de crescimento no setor de energia, com plataformas de conveniência e de pagamento digital como vantagens”, acrescentam. Por outro lado, os analistas seguem com uma visão neutra sobre as ações da BR Distribuidora devido a mudanças no ambiente de competição e regulação em distribuição de combustíveis, “que pode continuar a dificultar ganhos de margem significativos e contribuir para taxas de retorno decrescentes”

Mais cedo, as ações da Petrobras mostraram fortes ganhos, impulsionadas também pelo reajuste de preços de combustíveis da estatal, mas perderam força ao longo da tarde. Há pouco, a ON caía 0,47% e a PN cedia 0,33%.

Na contramão do desempenho da BR Distribuidora, ficaram justamente as ações da Eletrobras, que agora enfrentam a desconfiança dos investidores sobre os rumos da companhia. Há pouco, as ações ordinárias recuavam 9,69%, enquanto as preferenciais caíam 6,80%.

Os analistas do Safra, por exemplo, rebaixaram as ações ordinárias e preferenciais da companhia para neutro diante das incertezas sobre a privatização. “Após a renúncia de Ferreira, reduzimos a probabilidade de privatização para 20%, mantendo nossas estimativas de lucro inalteradas. Assim, cortamos nossos preços-alvo para R$ 35,1 por ação para ELET3 (de R$ 53,8 anteriormente) e para R$ 36,7 por ação para ELET6 (de R$ 55,3 anteriormente). Apesar do potencial de alta ainda na mesa, esperamos que o mercado precifique os riscos de perdas de eficiência após a saída de Ferreira da empresa”, dizem.