Por Roseli Loturco, Valor Econômico

A participação do mercado de capitais como fonte de financiamento a empresas ainda é pequena, comparada ao seu potencial. Enquanto o empréstimo às empresas via bancos está na casa do trilhão, as operações de mercados de capitais representam menos de um terço desse volume. Em relação a outros mercados, a diferença é ainda maior. Em 2017, a capitalização das empresas no mercado de capitais nos Estados Unidos movimentou US$ 29,9 trilhões. No Brasil, o total foi de R$ 316 bilhões, segundo dados da The Economist Intelligence Unit e Investing, da Deloitte e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Em ambiente de juros baixos e empresas pouco endividadas, porém, essa opção tem tudo para avançar de forma estruturada. “O mercado brasileiro está preparado e se a gente olhar para o tamanho da indústria de fundos, de R$ 4,5 trilhões, que é o mercado consumidor e tem apetite para comprar esses papéis, podemos ir muito além”, avalia José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima.

O que vem travando saltos maiores dessas operações são os próprios solavancos da economia. O arcabouço legal da Anbima, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do governo está sendo feito e aprimorado constantemente. “Precisamos de mais crescimento econômico, permanência dos juros baixos, estabilidade política, realização das reformas estruturais e mais investimentos em infraestrutura no país”, diz Laloni.

Os números comprovam a tese. Enquanto as ofertas iniciais de ações (IPO na sigla em inglês), que são mais sensíveis a incertezas políticas, estiveram quase paradas até setembro, com apenas três emissões na B3, as operações de debêntures avançaram 98%, para R$ 108,5 bilhões.

Uma das modalidades que puxou esse crescimento foi a atrelada a projetos de infraestrutura, que atingiu R$ 15,8 bilhões, impulsionada pelos setores de energia elétrica e transporte, a partir das rodadas de leilões durante o ano. “Se o próximo governo incentivar projetos nas áreas de saneamento, construção, portos, aeroportos, ferrovias e rodovias, a emissão desses papéis ganhará fôlego ainda maior”, afirma o executivo.

Pesquisa realizada em março pela Deloitte em parceria com o Instituto Brasileiro de Relação com Investidores (Ibri), com 750 grandes empresas, mostrou que elas buscam financiamento mais barato por meio do mercado de capitais. Do total, 12 disseram estar preparadas para fazer o IPO. “O mercado estimava que haveria entre 15 e 18 IPO’s, o que não se confirmou pelas incertezas políticas”, explica Giovanni Cordeiro, economista da Deloitte.

Ao contrário do mercado de renda variável, as emissões de títulos de renda fixa aumentaram, o que permitiu que as empresas melhorassem o perfil de suas dívidas, com vencimentos mais longos e pagando prêmios menores. O prazo médio das debêntures subiu de 4,6 anos, de janeiro a setembro de 2017, para 6,2 anos, no mesmo período deste ano, sendo que 14,4% dos papéis foram emitidos com vencimentos de dez anos ou mais.

Para os agentes do mercado, o fim do processo eleitoral vai trazer novo fôlego aos IPO’s. “O mercado postergou as emissões e ainda este ano podem acontecer mais 12 IPOs, com BMG e Tivit puxando a fila”, diz Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes da Bolsa. Segundo ele, no pipeline de IPO’s há 30 empresas, que podem gerar captações de até R$ 40 bilhões.

A demanda tem se mostrado reprimida também nos tradicionais empréstimos sindicalizados feitos por bancos em grandes operações financeiras, como a compra da Fibria pela Suzano, que contou com financiamento de US$ 6,9 bilhões, além de US$ 2,3 bilhões para exportação. O BNP Paribas foi um dos quatro bancos envolvidos no empréstimo. “Apesar da alta volatilidade, esse mercado permanece forte”, firma Ernesto Meyer, responsável pela área de empréstimos do BNP Paribas. O volume de cresceu 70% no primeiro semestre, para US$ 15 bilhões.