Folha de São Paulo
16/02/2020
Por Fábio Pupo e Thiago Resende
Entes dizem que fizeram dever e deveriam ter recompensa; negociação visa destravar Plano Mansueto
O governo negocia premiar estados em boa situação fiscale criar uma via rápida para a concessão de empréstimos para fazer avançar o Plano Mansueto. O projeto de lei tem como objetivo socorrer entes com contas em nível mais crítico.
Considerada uma das prioridades da agenda econômica neste semestrepelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a proposta já foi enviada ao Congresso. O texto está em discussão entre integrantes da pasta e congressistas.
As negociações para premiar estados com condições melhores são feitas após um pedido de entes em situação menos crítica.
Desde o ano passado, diante do movimento de socorro a entes com números ruins, eles argumentam que fizeram o dever de casa e deveriam ser recompensados de alguma forma.
Uma das ideias em discussão é criar uma via rápida (“fast track”) para aprovar empréstimos com aval do Tesouro a estados com nota A ou B.
Seriam reduzidas as quantidades de exigências burocráticas para facilitar as operações de crédito, como apresentação de documentos.
Também está em negociação elevar o limite de concessão de empréstimossem aval desses entes. Isso pode ser feito por meio de uma portaria do Tesouro —sem necessidade de inserção em lei.
Os estados com notas A e B são os mais bem colocados no sistema de classificação do Tesouro que avalia cada um levando em conta três indicadores: endividamento, poupança corrente e índice de liquidez.
O Espírito Santo é o único com nota A.
Já a lista daqueles com nota B tem dez integrantes: Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Pará, Paraíba, Piauí, Paraná, Rondônia e São Paulo.
Na avaliação da equipe econômica, as medidas devem fazer o Plano Mansueto avançar.
No Congresso, as negociações são encabeçadas pelo deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), relator do projeto. De acordo com ele, as novas medidas para o plano já estão praticamente prontas.
Faltam ser esclarecidas as novas regras para outra frente de ajuda aos estados, o RRF (Regime de Recuperação Fiscal). Até hoje, apenas o Rio de Janeiro assinou o acordo.
Está sendo discutido o prolongamento do prazo para que o Rio de Janeiro possa voltar a pagar as dívidas suspensas pelo acordo, inicialmente, até setembro de 2020.
Caso se repactuem as regras, o estado poderia voltar a fazer pagamentos após cerca de um ano. Mas isso depende de o estado endurecer o ritmo do esforço fiscal. Caso contrário, o prazo seria acelerado.
“Não cumpriu as metas, acelera o pagamento das parcelas. Cumpriu, pisa no freio e vai devagarinho”, diz o deputado.
A ideia é que o relatório seja votado direto no plenário da Câmara, sem precisar passar por comissão especial. Isso é possível com a aprovação de um requerimento de urgência no plenário.
A nova versão do projeto deve ser apresentada até o começo de março.
Apesar das negociações, a tramitação do plano para ajudar estados e municípios está parada desde que foi apresentada, em junho. O foco do plano original do governo foi o grupo com rating C.
Ao todo, são 13 entes da Federação: Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.
Quem aderir ao programa poderá ter acesso a financiamento e cumprir ao menos 3 de 8 requisitos.
São exemplos de contrapartidas: privatizar empresasdos setores financeiro, de energia, de saneamento, ou de gás; reduzir em 10% os incentivos ou benefícios tributários no ano seguinte à assinatura do programa de socorro.
O Tesouro reservou R$ 40 bilhões —dos quais R$ 10 bilhões por ano— para dar aval a empréstimos estaduais.
A avaliação de governadores, no entanto, é que as exigências são muito duras. Por isso, os mandatários dos estados têm priorizado projetos que representam um dinheiro extra ao caixa e sem contrapartidas, como a divisão de recursos da cessão onerosa.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), determinou, ainda em junho, a criação da comissão que vai analisar o Plano Mansueto.
Dos 34 membros, apenas 14 foram indicados pelos partidos, em um sinal de desinteresse em relação ao projeto, apesar de o plano ter o apoio de Maia.
Outra discussão da qual o deputado participa é a regra de ouro das contas públicas, que impede endividamento para pagar despesas correntes (norma que a União já não consegue cumprir e escapa de punição graças a aval do Congresso).
Ele e os colegas da Câmara aguardam o Senado concluir a tramitação da PEC (proposta de emenda à Constituição) Emergencial, criada pela equipe de Guedes e que altera regras fiscais e orçamentárias, para discutir formalmente o assunto.
Pedro Paulo quer reinserir na PEC o acionamento das medidas de ajuste previstas em caso de estouro do teto de gastos, além de seu mecanismo de alertas prudenciais de estouro da regra de ouro.