Estadão

Nas duas últimas semanas, Jair Bolsonaro promoveu alterações importantes na sua equipe ministerial, que sinalizam uma nova estratégia para o seu segundo ano de governo. Segundo pessoas próximas ao presidente, ele estava insatisfeito com o desempenho de sua equipe, especialmente na execução de programas da área social e com as falhas de gerência do dia a dia do governo.

Em cerca de um mês e meio, Bolsonaro demitiu o presidente do INSS, Renato Vieira, por causa do apagão do processo de pagamento de benefícios previdenciários, que fez com que autorizasse a contratação de 7 mil pessoas para conter o colapso do sistema; depois, rifou o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, por entender que a pasta não deslanchava nas suas ações, especialmente em relação ao programa Minha Casa Minha Vida, de forte apelo social na área da habitação. Por fim, tirou Osmar Terra do Ministério da Cidadania pelos problemas ocorridos no atendimento do Bolsa Família.

Essa preocupação em fortalecer a agenda social não é à toa. Bolsonaro sabe que, depois de um ano à frente do governo, essa área tem sido um dos pontos fracos pela falta de resultados. Num ano eleitoral, avalia que não ter o que mostrar nesse quesito dá munição política para os partidos de esquerda e fortalece a campanha dos adversários de seus aliados nas eleições municipais.

Para piorar, ainda vai precisar superar o desgaste político provocado pelas declarações recentes do ministro da Economia, Paulo Guedes, dizendo que a cotação baixa do dólar no passado era um problema e citando a possibilidade de empregadas domésticas viajarem para a Disney como um dos efeitos negativos dessa situação.

Guedes já tinha causado insatisfação nos servidores públicos ao compará-los a parasitas. Mesmo se justificando depois, tentando dizer que foi mal compreendido e que sua fala foi tirada de contexto, as declarações do ministro contribuem para a construção de um discurso dos partidos de esquerda de que o governo é elitista e não gosta de pobres. Por isso, mais do que nunca, Bolsonaro precisa dessa agenda social funcionando para tentar sustentar que sua administração também se volta para os mais pobres.

Super-gerência

Na parte de gerência do governo, Bolsonaro também achava que os problemas estavam aumentando. E, segundo aliados do presidente, alguns casos ele entendia que poderiam ter sido evitados se o limite do Planalto estivesse mais organizado. Ele ficou especialmente irritado, por exemplo, com a crise provocada pela viagem com o avião da FAB para Suíça e Índia feita pelo então secretário-executivo da Casa Civil Vicente Santini.

O reforço da ala militar da “cozinha” do governo é uma tentativa de fortalecer a organização. Com a entrada do general Walter Braga Netto na Casa Civil, o presidente avaliou que será possível ter uma espécie de super-gerente do governo, acompanhando o trabalho de todas as pastas e detectando possíveis riscos. Essa ação, porém, não vai valer para a área econômica, onde Paulo Guedes segue com autonomia total, apesar das últimas derrapadas, e para o Ministério da Justiça, onde Sérgio Moro define as ações.

A “convocação” de auxiliares da ala militar mostra uma recuperação do setor dentro do governo. Depois de vários oficiais de alta patente terem sido ligados do governo no ano passado, incluindo o ex-ministro general Santos Cruz, eles voltaram a ter prestígio com o presidente. Agora, Bolsonaro se cercou de militares em busca de uma eficiência nunca alcançada pelo seu governo.

Há uma dúvida se esse rearranjo representa também um enfraquecimento da chamada ala ideológica do governo, representada por ministros ligados ao guru Olavo de Carvalho e outros de forte viés conservador ou religioso. O reordenamento do Palácio foi acompanhado da nova designação para a Secretaria de Assuntos Estratégicos, que agora ficará ligada diretamente ao gabinete de Bolsonaro e absorverá parte das atribuições que antes cabiam ao assessor internacional Filipe Martins, um dos principais expoentes do olavismo no governo.

Como Martins teve função muito destacada na campanha e no primeiro ano de mandato de Bolsonaro, é cedo para cravar que ele está em baixa, ou será esvaziado. Bolsonaro tem sido ciclotímico na maneira como lida com assessores, ora os incensando, ora minando. Isso até descartar alguns deles.

Martins teria atuado para derrubar o também ideológico Abraham Weintraub do Ministério da Educação, o que explicaria estar agora de “castigo”. Mas não é o único a querer que o presidente demita o ministro da Educação: os militares, agora robustecidos, têm defendido a troca na pasta para evitar que os maus resultados na Educação comprometam eleitoralmente Bolsonaro e desacreditem o discurso da direita de que era preciso mudar radicalmente essa área.

Mas Weintraub se fortaleceu junto ao presidente pelos ataques que passou a sofrer da esquerda, que foi ao Twitter pedir seu impeachment. Isso lhe valeu o endosso do filho 03 de Bolsonaro, Eduardo, e do próprio chefe. Mas isso não é permanente, como mostram os casos de amor e ódio por aliados que o presidente coleciona em 14 meses de mandato: já foram do céu ao inferno nomes como Gustavo Bebianno e Santos Cruz, e alguns fazem escala ora lá, ora acolá, como Sérgio Moro e o próprio Onyx Lorenzoni.