Valor Econômico
10/11/2020

Por Stella Fontes

Múlti vai buscar novos negócios no abastecimento de água e tratamento de esgoto no país, onde enxerga potencial de mercado de US$ 500 milhões

Tradicional fornecedora de tecnologias de tratamento de água e efluentes para a indústria, a DuPont Water Solutions (DWS), unidade da DuPont que absorveu os ativos da Dow nessa área após a fusão dos dois gigantes americanos, quer avançar sobre os municípios brasileiros em busca de novos negócios em abastecimento público de água e tratamento de esgoto. Com a aprovação do novo marco legal do saneamento e a universalização desses serviços, a DWS vê um mercado potencial de pelo menos US$ 500 milhões no país e planeja ampliar a operação local à medida que a expectativa de novos contratos se confirme.

“Estamos olhando toda a região, mas o Brasil, em particular, oferece muitas oportunidades”, disse ao Valor o diretor comercial para a América Latina, André Sousa. Até agora, foram mapeados negócios potenciais que somam mais de US$ 30 milhões nos próximos três anos.

Dos US$ 500 milhões em oportunidades de negócio apenas para o mercado brasileiro, US$ 150 milhões se referem a investimentos potenciais em tratamento de água por ultrafiltração, US$ 350 milhões a tratamento de esgoto por ultrafiltração. Outros US$ 5 bilhões podem ser movimentados em equipamentos para tratamento avançado de água e esgoto.

A DWS, que fica sob o guarda-chuva da divisão Safety e Construction da gigante DuPont, já está em contato com concessionárias e prefeituras em diferentes regiões do país, de acordo com o gerente de marketing na América Latina, Flavio Bechir. E tem um projeto piloto de tratamento de água por membranas de ultrafiltração em operação em Brasília, na Estação de Tratamento de Água (ETA) Lago Norte, da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), que se tornou referência.

Esse piloto entrou em operação durante o período de racionamento no Distrito Federal e possibilitou o abastecimento de parte da população de Brasília a partir do Lago Paranoá. A tecnologia de membranas, segundo o executivo, reduz a área necessária para uma operação dessa natureza, tem custos operacionais mais competitivos e oferece mais regularidade na qualidade da água em relação aos sistemas tradicionais. “Nas grandes cidades, a disponibilidade de área [para construção de estações de tratamento de água] também passa a ser um problema”, explicou.

Na avaliação dos executivos da DuPont, apesar da elevada disponibilidade hídrica e diante das condições dos efluentes que são devolvidos às reservas, o reúso da água se apresenta como melhor alternativa para garantir o abastecimento na região. Em um ou outro casos, o sistema de dessalinização, que já foi testado em Alagoas, também pode ser opção, porém de custo superior.

Maior projeto de produção de água de reúso industrial na América do Sul, o Aquapolo é considerado o estado da arte em tratamento de efluentes e leva tecnologia da DuPont – o empreendimento nasceu de uma parceria entre GS Inima Industrial e Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) e fornece 650 litros por segundo de água de reúso para o polo petroquímico do ABC paulista.

Nos próximos dois a quatro anos, a expectativa é triplicar o faturamento da operação brasileira. Com 24 profissionais na América Latina, a DWS tem receita anual consolidada da ordem de US$ 1,2 bilhão e, no ano passado, 5% das receitas foram geradas na região (incluindo México). Neste ano, por causa da pandemia de covid-19, o faturamento da unidade de negócios no Brasil deve crescer mais de 20% – o ritmo de expansão pode se acelerar com a assinatura de novos contratos no segmento municipal.

Segundo Sousa, além dos negócios que virão na esteira da expansão dos serviços de água e esgoto no país, haverá projetos de modernização de estações de tratamento que usam tecnologias convencionais e não entregam nível de qualidade requerido. “O Brasil tem de focar o tratamento de efluentes e o reúso industrial. O projeto Aquapolo é um exemplo”, reforçou.