Por Carolina Freitas – Valor Econômico

28/02/2019 – 05:00

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse ontem que o ganho com a reforma da Previdência pode ficar abaixo do esperado pelo governo Jair Bolsonaro. “A melhor reforma da Previdência é aquela que for aprovada. Se a economia for de R$ 800 bilhões ao invés de R$ 1 trilhão é bem-vinda”, afirmou Doria em evento do BTG Pactual, na capital paulista. O tucano participou de painel ao lado dos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). Os três firmaram apoio à reforma e disseram estimular as bancadas estaduais a votarem pela proposta de emenda à Constituição (PEC).

O governo Bolsonaro espera economia de R$ 1,07 trilhão com as mudanças na Previdência. Doria prefere o pragmatismo. “O importante é que a reforma avance e seja aprovada. Se a melhor reforma é aquela que for aprovada, a pior é a que não for.”

Apesar do apoio à PEC, os três governadores ponderaram haver limites no poder de influência deles sobre os deputados. Leite afirmou que a força política dos governadores diminuiu. “Há 30 anos, o governo estadual podia se endividar, tinha seus próprios bancos, se financiava”, lembrou.

Caiado disse que governador não manda em bancada: “Nossa força é a do argumento.” O partido de Caiado, o DEM, detém os ministérios da Casa Civil, Agricultura e Saúde, além de ocupar a presidência da Câmara e do Senado. “A responsabilidade do meu partido é muito grande para a aprovação da reforma”, reconheceu o goiano.

Doria aproveitou a plateia e cobrou engajamento de Bolsonaro na campanha pró-reforma, no papel de líder de comunicação. “O presidente não pode se ausentar do debate”, afirmou Doria, que evocou a fracassada tentativa do expresidente Michel Temer de mudar as regras de aposentadoria. “O que derrubou a reforma de Temer foi comunicação.

Quem é contra a reforma são os que querem Lula livre. Se não lutar pela Previdência, o presidente corre risco”, disse Doria.

Para justificar o silêncio de Bolsonaro, Ronaldo Caiado evocou desde uma estratégia de preservação do presidente até questões médicas. “Estão preservando Bolsonaro para entrar exatamente na hora em que a matéria for para a CCJ. Ali é o momento em que ele vai para a rua, vai comunicar e deixar claro o quanto a reforma da Previdência é fundamental para o cidadão comum”, disse. “Ele não teve essa oportunidade, por seus problemas de saúde.” Bolsonaro recebeu alta hospitalar há 15 dias, depois de passar por cirurgia.

Durante o painel, os governadores foram questionados sobre a intenção de cada um de concorrer à Presidência. Doria desconversou: “Fui eleito para ser governador de São Paulo e essa é minha missão. Quem sabe mais adiante posso ser candidato a presidente do Santos Futebol Clube.” A piada era usada pelo ex-governador Geraldo Alckmin, santista como Doria. Alckmin concorreu a presidente em 2018.

Sentado ao lado de Doria no palco, Leite disse estar disposto a apoiar o colega paulista. “O que me realiza na política não é ser qualquer coisa, é poder ajudar a fazer”, disse Leite. “Se chegar lá na frente e o meu papel for ajudar outra pessoa, com o Doria, por exemplo, não tenho nenhum problema.”

Doria cumprimentou o gaúcho com um forte aperto de mão logo depois da declaração de Leite.

Na sua vez de responder à pergunta, Caiado disse estar dedicado a Goiás, mas sempre ter desejado se lançar à Presidência. E citou um conselho do pai: “É preciso cabelos brancos para se candidatar a presidente.” Caiado era, entre os três governadores convidados, o único a cumprir o critério.