Valor Econômico
11/03/2020

Por Marcelo Osakabe e Victor Rezende — De São Paulo

Turbulência global leva outros emergentes a intervir no mercado de moedas

No dia seguinte à forte turbulência que assolou os mercados globais, os investidores encontraram espaço para uma recuperação moderada das moedas emergentes. O tom mais construtivo foi ajudado pela expectativa com anúncio de estímulos fiscais nos Estados Unidos e, no caso do Brasil, por uma nova intervenção do Banco Central no câmbio – iniciativa que tem ganhado adesão entre outras autoridades monetárias para apoiar suas respectivas moedas.

Por aqui, o dólar comercial fechou em queda de 1,77%, aos R$ 4,6447. Os demais emergentes, em sua maioria, também se recuperavam do tombo do dia anterior. No fim da tarde, a divisa americana cedia 4,36% na comparação com o rublo russo e 1,10% ante o peso colombiano. A maior exceção a esse movimento foi o peso mexicano, que se mantinha estável contra o dólar mesmo após o governo local anunciar, na terça-feira, um aumento do programa de intervenção de US$ 20 bilhões para US$ 30 bilhões, em uma tentativa de amparar a moeda local.

Voltando ao Brasil, o dia foi de recuperação desde os primeiros momentos de negociação, ajudados pelo leilão de US$ 2 bilhões feito pelo Banco Central no mercado à vista. O movimento ganhou o reforço do noticiário em Washington, onde se esperava que a Casa Branca anunciaria um pacote de estímulos fiscais – que acabou não trazendo novidades.

Apesar da melhora em relação à véspera, o sentimento sobre o Brasil ainda não voltou aos patamares observados no fim da semana passada, ao menos segundo o risco país medido pelo contrato de Credit Default Swap (CDS) de 5 anos. De acordo com dados compilados pela Markit, o spread do CDS brasileiro estava em 168 pontos, queda de 16,7% em relação ao fechamento de terça. Ainda assim, o patamar era 16,2% acima dos 145 pontos registrados na última sexta-feira.

Por causa da natureza do choque de petróleo, que atinge com mais força alguns emergentes que outros, o risco país também se comportou de forma distinta entre esse grupo. O CDS de México, Colômbia e Rússia, por exemplo, continuam ao menos 30% mais altos do que na sexta. Já África do Sul e Turquia, na outra ponta, foram os menos afetados. Seus respectivos CDS continuam apenas 11% e 3% maiores na mesma comparação.

A forte depreciação de moedas emergentes começa a colocar em risco a perspectiva de que os BCs desses países pudessem seguir o Federal Reserve e cortar juros para ajudar suas economias. Em uma tentativa de segurar o movimento, alguns deles já começam a intervir no câmbio.

O Banco do México (Banxico), por exemplo, já anunciou na segunda que aumentou o montante de seu programa de intervenção via swap cambial de US$ 20 bilhões para US$ 30 bilhões. Ainda assim, para analistas do Bank of America, o tombo recente do peso e a inflação persistentemente alta deve limitar a ação da autoridade monetária local.

“O Fed cortou os juros em 0,5 ponto na semana passada e deve cortar mais 0,5 na próxima semana. Acreditamos que o Banxico irá responder também reduzindo sua taxa básica, mas em proporção menor. O mercado precifica um corte de juros maior no México que nos EUA nos próximos doze meses. Isso significa, portanto, que o Banxico deve apertar sua postura relativa de política monetária”, escrevem os economistas do BofA em relatório enviado a clientes.

Na Rússia, o BC local também elevou o teto do programa de swap cambial para US$ 5 bilhões e adiantou o início da venda de reservas cambiais do fundo soberano, dinheiro que será usado para financiar um maior gasto fiscal.

No entanto, na avaliação de Evghenia Sleptsova, economista sênior da Oxford Economics, os preços muito baixos do petróleo devem acabar impactando o PIB local, ao passo que o rublo mais fraco irá adicionar cerca de 2,2 pontos percentuais à inflação, que irá ficar acima da meta de 4% até o fim do ano. Nesse sentido, o Banco da Rússia deve entregar um aumento na taxa básica de juros em 20 de março “para minimizar as saídas de capital”, diz.

Por aqui, a expectativa é que o Banco Central anuncie corte de, ao menos, 0,25 ponto percentual da taxa Selic quando anunciar sua decisão de política monetária em 18 de março.