Valor Econômico
06/04/2020

Por Roseli Loturco

Empresas exportadoras e ligadas ao varejo podem se sair bem

Altamente impactado pelas incertezas da pandemia do coronavírus e seus efeitos imprevisíveis

sobre as economias globais, o mês de março registrou perdas de quase R$ 1,2 trilhão nas ações que compõem o Ibovespa, índice referência da B3, e resgates líquidos de mais de R$ 32 bilhões nos fundos de renda fixa e de R$ 5,5 bilhões nos multimercados.

As perdas nos investimentos têm sido históricas. “O contágio não para de crescer. Atingimos a marca global de 1 milhão de infectados e grandes economias, como os EUA, têm sido foco de atenção. Com isso, a aversão ao risco imperou sobre os mercados globais”, avalia Luciane Effting, diretora de investimentos do Santander.

Mas, especialistas alertam para as oportunidades que o momento está gerando. E dizem que o ideal é avaliar o impacto relativo dos principais indicadores econômicos sobre as atividades econômicas e o atual preço dos ativos em bolsa. Por exemplo, há setores que se beneficiam com o atual momento do câmbio, como papel e celulose, proteína animal, agronegócio e mineração, compensando a queda dos preços das commodities.

“A demanda doméstica por esses produtos deve cair este ano, mas, por outro lado, a maior parte das receitas desses setores vêm das vendas à China, que, ao que tudo indica, sairá primeiro da crise.”

Do ponto de vista da dinâmica doméstica, há setores que se mostram mais resilientes, como os de transmissão de energia e de telecomunicações. “E até mesmo no varejo físico e digital. Apesar da baixa visibilidade, alguns ativos já se encontram com preços atrativos para investir no médio e longo prazo. São de empresas que vão conseguir passar com menos impacto pela crise”, observa Alexandre Silvério, sócio da AZ Quest.

Para a gestora, apesar da possível queda em seus lucros no curto prazo, essas empresas estarão melhor e mais bem preparadas para voltar a crescer quando a situação se resolver. Silvério ressalta ainda que outra particularidade desta crise é que, mesmo com o tombo expressivo do Ibovespa, os fundos de ações tiveram captação líquida positiva em R$ 7,6 bilhões em março. “Reflexo dos juros baixos e de maior maturidade deste tipo de investidor. O que pode indicar que numa melhora de cenário de Bolsa, o investidor com perfil de risco vá se sair melhor”, analisa Silvério.

É preciso considerar que esta possa ser só um recorte do que realmente está ocorrendo com as movimentações dentro dos fundos de ações e multimercados. “Boa parte dessas classes de investimentos trabalha com resgate em d+30. Portanto o resgate solicitado durante a acentuação do coronavírus só será convertido em liquidez em um mês”, observa Mauro Tukiyama, sócio responsável pela área de mercado de capitais, da RB Investimentos, empresa do grupo RB Capital.

O gestor também defende que, quando a aversão ao risco global diminuir, com cenário de juro baixo e em queda, o setor de utilities, especialmente transmissão de energia, rodovias, ferrovias, geradoras de energia, saneamento e atividades relacionadas à saúde e logística devem ser os menos afetados e, portanto apresentar melhores possibilidades de ganhos para quem quer entrar na Bolsa de forma gradual.

Já para o chefe de produtos da Ágora Investimentos, André Fernandes, o investidor deve buscar ações nos próximos meses para aproveitar o preço baixo de ativos com alta qualidade.