O Globo

30/07/2021

Com a perda da navegabilidade dos rios, importantes hidrovias são prejudicadas, com problemas nos vizinhos Argentina e Paraguai

SÃO PAULO – A seca no Brasil tornou impossível a navegação no Rio Paraná, o mais importante do país, e ainda mais desafiador e custoso transportar commodities como grãos e minérios para o mercado global. A Bacia do Rio Paraná, que alimenta a maior hidrelétrica brasileira, a binacional Itaipu, passa pela pior crise hídrica em 91 anos.

No auge da seca: ONS vê ‘esgotamento de praticamente todos os recursos’ para o fornecimento de energia em novembro

O segundo maior rio da América do Sul, que alimenta a região industrializada mais ao sul do país de energia e água, bem como dá suporte a países vizinhos já afetados profundamente pela seca, operou em junho com média 55% abaixo do esperado para o mês, segundo a série histórica.

As consequências da questão hídrica avançam além das fronteiras brasileiras, e a recuada no nível dos reservatórios já causa interferências na cadeias de suprimentos e gargalos na Argentina, a maior exportadora de farinha de soja do mundo, e no Paraguai. O Brasil é o maior exportador de grãos de soja, café e açúcar e o segundo maior fornecedor de aço e milho.

O país aprovou uma medida provisória para autorizar esforços temporários e excepcionais para otimizar o uso de recursos hidroenergéticos e garantir o abastecimento de energia enquanto o Brasil enfrenta uma de suas priores crises hídricas.

A sub-bacia Tiete-Paraná, que transporta grãos e oleaginosas do cinturão superior de culturas do Brasil para os terminais de exportação, está perto de interromper as atividades pela primeira vez desde a última seca severa, em 2014, disse Luizio Rizzo Rocha, vice-presidente da Federação Nacional de Empresas de Navegação Aquaviária.

Ele aponta ainda que o nível de água em um trecho-chave da hidrovia, conhecido como Avanhandava, ficou um pouco abaixo do recomendado para a navegação.

O nível de chuvas abaixo do normal deixou um gargalo pelo segundo ano seguido na hidrovia Paraguai-Paraná, usada pela Vale como uma alternativa de transportes mais barata que estradas ou ferrovias. O transporte de cargas está no pior momento da série histórica, levantada pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) desde 2010.

— A hidrovia Paraguai-Paraná também corre risco de parada de navegação — afirma o superintendente de performances da Antaq, José Renato Ribas Fialho, à Bloomberg. — As embarcações já estão transportanto uma capacidade menor que há um ano, o que aumenta o tempo e os cursos de transporte.

Racionamento: Falta de chuvas leva cidades de SP e outros estados a adotarem restrições ao uso da água

Caminhões de mineração estão lotando a principal rodovia da região e acidentes se tornaram frequentes, segundo Jesse do Carmo, presidente de um sindicato local de funcionários de mineradoras.

A Vale afirmou que está usando embarcações de baixo calado no rio, e também optou pelo transporte de minérios por rodovias e ferrovias de forma a atender os clientes dentro e fora do Brasil de forma segura e legal.

O Rio Madeira, hidrovia ao sul da Região Amazônica responsável por transportar grãos e oleaginosas, também passa por um período de secas superior ao esperado para esta época do ano.

Toda ajuda: Com risco de racionamento, até termelétrica desligada há quatro anos volta a operar

A Transportes Bertolini, uma importante empresa de logística que opera na localidade, planeja reduzir as cargas pela metade, um mês antes que a estação seca do ano passado, afirmou o presidente da companhia, Irani Bertolini, em entrevista por telefone à Bloomberg.