Valor Econômico

14/07/2021

Por Cibelle Bouças — De Belo Horizonte

Fim de programas anticíclicos fazem linhas de longo prazo devem encolher após alta de 41% em 2020

O sistema nacional de fomento, conjunto de instituições que ofertam crédito de longo prazo, terá uma desaceleração na oferta de crédito para micro e pequenas empresas em 2021, depois de registrar crescimento de 41% no ano passado e 42,9% nos 12 meses até março deste ano. De acordo com a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), a desaceleração resulta da menor oferta de programas anticíclicos pelo governo.

O presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e presidente da ABDE, Sergio Gusmão Suchodolski, disse que a nova fase do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) terá crédito de até R$ 25 bilhões para uso de julho a dezembro. No ano passado, o programa totalizou R$ 37 bilhões. Juntas, as entidades do sistema nacional de fomento operaram 78,5% do valor contratado em 2020, totalizando R$ 29,5 bilhões em garantias. O BDMG vai operar R$ 339 milhões do Pronampe neste ano, ante R$ 650 milhões em 2020.

Essa redução é compensada, em parte, pelo aumento na captação de recursos estrangeiros. Suchodolski disse que o sistema nacional de fomento tem atualmente US$ 3,88 bilhões de recursos em negociação com instituições financeiras internacionais, aumento de 63,7% em relação a 2020, quando as captações estrangeiras somaram US$ 2,37 bilhões. “Para o investidor estrangeiro, o Brasil está muito barato. Há uma preocupação coma volatilidade do câmbio, mas ainda é vantajoso para o investidor estrangeiro”, afirmou.

Suchodolski citou vantagens do Brasil para atrair investimento estrangeiro, como um mercado doméstico relevante, estar entre as 20 maiores economias do mundo, ter atividades econômicas diversificadas e ser atraente para projetos de sustentabilidade.

Ele acrescentou que, do total de recursos estrangeiros negociados neste ano, 84% são focados na área social e ambiental. As linhas de crédito têm como foco a equidade de gênero, empreendedorismo feminino, trabalho decente, sustentabilidade ambiental, entre outros temas incluídos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

O crescimento da oferta de crédito internacional é generalizado, diz. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Agência Francesa de Desenvolvimento, Fonplata, banco de desenvolvimento multilateral formado por Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, e Banco Europeu de Investimento, International Finance Corporation (IFC) estão entre as que ampliaram acordos com as instituições de fomento do país.

Suchodolski ressaltou a entrada do Brasil no Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), que oferece acesso imediato a crédito de US$ 350 milhões. E um acordo firmado entre o Sicredi e o IFC de US$ 120 milhões para projetos de energia solar em todo o país. Em São Paulo, o Desenvolve SP captou recentemente US$ 100 milhões com o IFC e o Santander para financiar projetos de saneamento básico e água potável. Ele destacou a assinatura em junho de um memorando de entendimento do BDMG com o Reino Unido para desenvolver financiamento de projetos de baixo carbono em Minas.

Em 2020, o sistema nacional de fomento teve crescimento de 7,4% na carteira de crédito, chegando a R$ 1,80 trilhão. A carteira de crédito com micro e pequenas empresas chegou a R$ 210 bilhões, com avanço de 41%. Em 12 meses até março deste ano, houve aumento de 42,9%, para R$ 216,3 bilhões.

Ele acrescentou que houve também mudança no perfil da carteira de crédito. Em 2020, com a pandemia, houve mais demanda por recursos para capital de giro. Essas linhas tiveram aumento de 74% na procura. Já em 2021, cresce a procura de crédito mais longo, com viés de investimento. Suchodolski observou que, no BDMG, a liberação de créditos para projetos sustentáveis superou os 50% dos desembolsos em 2020, ante 38% em 2019.