Valor Econômico

 06/01/2021

Por Stella Fontes — De São Paulo

Com volta da Braskem, oferta de cloro deve subir

Retomada das operações da petroquímica em Maceió elevará a oferta em 30% neste ano

Depois da queda de quase 10% na produção em 2020, a indústria brasileira de cloro e soda cáustica deve voltar a crescer no ano que vem. No curtíssimo prazo, a expectativa gira em torno da retomada das operações da Braskem em Maceió (AL), que elevará em 30% a oferta de cloro há 4 horas no país e está em vias de ser oficializada. As operações foram suspensas no primeiro semestre de 2019, após o afundamento do solo em bairros da capital alagoana, associado à mineração de sal-gema, insumo usado no ciclo produtivo do PVC.

Em demanda, a expectativa da Associação Brasileira de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor) é de expansão de 5% frente ao visto em 2018, quando todas as fábricas instaladas no país estavam em funcionamento. Até outubro de 2020, segundo dados da entidade, a produção de cloro totalizou 648,8 mil toneladas, queda de 9,9% em relação ao mesmo período de 2019, quando foram produzidas 720,3 mil toneladas. A comparação já se dá sobre base fraca, por causa da suspensão das atividades em Maceió.

“Se o PIB brasileiro crescer 3,1%, a indústria pode chegar a 5% de expansão”, diz o presidente do conselho diretor da Abiclor, Mauricio Russomanno. O executivo também é presidente da Unipar, maior produtora de cloro e soda da América do Sul.

Além da suspensão das operações em Maceió, a Braskem encerrou definitivamente a produção de cloro-soda em Camaçari (BA), afetando a oferta nacional no ano passado. Frente à produção de janeiro a outubro de 2018, quando todas as unidades operavam normalmente, a queda chega a 29%.

Conforme a Abiclor, 2020 foi “bastante atípico” não apenas pelos impactos da pandemia, mas por causa da ausência de produção em duas das nove fábricas instaladas no país. Conforme Russomanno, depois da queda acentuada na produção em parte do segundo trimestre, houve forte retomada nos meses seguintes. Em determinados segmentos, como o de PVC, houve falta de produto momentaneamente por causa da concentração da procura em intervalo curto de tempo – o mercado já começou a se reequilibrar, diz o executivo.

Na Unipar, o “boom” da construção civil impulsionou os negócios a partir do fim do segundo trimestre e os clientes fizeram compras acima da média histórica. “As empresas quiseram recuperar a queda do segundo trimestre, foi preciso reconstruir estoques na cadeia de valor e houve aumento do investimento em reformas. Tudo isso levou a um movimento atípico”, diz.

Num esforço para corrigir o desequilíbrio no mercado de PVC, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) reclassificou, em dezembro, de 14% para 4% a alíquota de importação da resina, com cota de 160 mil toneladas por três meses, prorrogáveis por igual período. A medida não foi bem recebida pelos fabricantes locais de PVC. Conforme a indústria, na prática, a tarifa de importação já é inferior a 14% – Colômbia e Argentina podem vender ao país com isenção fiscal – e a redução de alíquota não ajuda a corrigir a escassez de oferta, já que o desarranjo na cadeia é global e consequência dos impactos da pandemia de covid-19.

Do lado da oferta, além da retomada da operação da Braskem em 2021, a indústria vai se preparar para atender à demanda adicional gerada pelo marco legal do saneamento. A expectativa é que haverá grandes investimentos privados em água e esgoto no país, com consumo crescente de cloro.

Hoje a indústria nacional de cloro-soda pode produzir cerca de 1,5 milhão de toneladas por ano, mas há capacidade ociosa e condições de atender ao crescimento projetado – o volume produzido gira em torno de 1 milhão de toneladas por ano. Grandes produtores, como a Unipar, estão programando investimentos adicionais em produtividade e eficiência para fazer frente ao novo mercado.

Com a retomada da unidade de cloro-álcalis da Braskem em Maceió, o nível de utilização da indústria de cloro-álcalis em 2021 deve voltar ao patamar de 2018, acima de 70%.