Valor Econômico
12/12/2020

Por Folhapress

As fortes chuvas do início de dezembro ainda não foram suficientes para afastar o risco de rodízio ou racionamento de água

As fortes chuvas do início de dezembro ainda não foram suficientes para afastar o risco de rodízio ou racionamento de água nos próximos meses nos municípios do interior paulista, e o alerta está mantido para a região. Há regiões com níveis baixos nos reservatórios.

A CIS (Companhia Ituana de Saneamento) anunciou nesta última segunda (7) rodízio em duas regiões da cidade de Itu, além de multas para o desperdício de água. Segundo comunicado, a cidade enfrenta seu menor índice de chuvas desde 1988 e temperaturas recordes.

Na região central, o sistema de abastecimento funciona dia sim, dia não em bairros escalonados. Já na região de Pirapitingui, não haverá fornecimento de água às terças e quintas em todos os bairros.

“Itu enfrenta o menor índice anual de chuvas de sua história, com temperaturas recordes. A última chuva representativa aconteceu em junho. Por isso, o momento exige cautela. Apesar do suporte dos Sistemas Mombaça e Pirajibu, os dois mananciais não garantem sozinhos o abastecimento da cidade inteira”, explicou o superintendente da CIS, Vincent Menu, em nota. Os dois sistemas operam com 100% da capacidade.

Itu é abastecida pela Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê. Procurado pela reportagem, o comitê RSMT não se manifestou sobre os demais municípios atendidos.

Sorocaba, que implementou rodízio em três setores em setembro, cancelou a medida no início de outubro. Segundo a SAAE, isso foi possível devido ao aumento das chuvas, ao aumento da capacidade das represas Castelinho/Ferraz e a um índice de 15% de economia no consumo de água.

Bauru, no centro do estado, enfrenta racionamento desde outubro -em alguns bairros, em sistema 24/72h, ou seja: um dia com água, três dias sem, segundo o DAE.

Atibaia, na região de Campinas, implementou em outubro um plano de contingenciamento que prevê a interrupção do fornecimento em alguns bairros, às quartas, às sextas e aos domingos, das 21h às 6h, segundo a SAAE.

Em Ourinhos, pontos do sistema de distribuição são fechados entre 12h e 16h, para reservar água na ETA (Estação de Tratamento de Água) e nos reservatórios -num esquema chamado pela prefeitura local de “reservação de água”. A medida foi anunciada em outubro como provisória, mas continua em vigor.

Em São José do Rio Preto, Araçatuba e Votuporanga, o racionamento que vigorava desde setembro foi suspenso no fim de outubro.

De acordo com o Consórcio PCJ, responsável pelo gerenciamento das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí em 76 municípios, a situação na região é mais crítica do que a vivenciada em 2014, já que as precipitações abaixo das médias históricas se sucederam desde o início do ano.

Naquele ano, os reservatórios do Sistema Cantareira chegaram a níveis mínimos, sendo implantados bombeamentos do chamado “volume morto”. Hoje, ele opera com pouco mais de 30% de armazenamento -60% é considerado o mínimo necessário para uma situação de “sustentabilidade hídrica”.

“Mesmo com o comportamento das chuvas nesse início de dezembro, o ano de 2020 deve apresentar diminuição no volume das precipitações, o que representará o terceiro ano seguido de queda de chuvas previstas”, afirmou Francisco Lahóz, secretário executivo do Consórcio PCJ.

“Por isso, essa ocorrência ainda não permite ao consórcio mudar sua orientação de alerta para a comunidade quanto ao consumo consciente e racional da água, pois os eventos ainda podem acarretar sérios impactos à disponibilidade hídrica das bacias”, acrescentou.

Até o fim de novembro, as chuvas ficaram 28% abaixo do esperado para o ano na região. Nos anos de 2018 e 2019, as quedas no volume de precipitação média anual foram de 20,5% e 12,5%, respectivamente.

Em setembro, com a chegada do fenômeno La Niña, as chuvas na região ficaram 73,5% abaixo das médias históricas, e o consumo de água passou a ser pressionado pela onda de calor.