Por Anaïs Fernandes – Valor Econômico

26/07/2019 – 05:00

Os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para infraestrutura estão longe do auge, mas o banco ainda pode ter uma atuação importante nas emissões privadas do setor, como de debêntures, funcionando como um “selo de qualidade”, avalia o economista Carlos Antonio Rocca, diretor do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (Cemec-Fipe).

Para Rocca, o futuro do financiamento à infraestrutura será via mercado, o que não significa que não haverá um papel para o BNDES. “Ele não precisa participar necessariamente fornecendo recursos. Nas emissões, seria como um carimbo, porque tem tradição de qualidade de avaliação de projeto. Seria mais um indicador de que os riscos estão mensurados e mitigados”, diz.

Os desembolsos do BNDES para infraestrutura ficaram praticamente estáveis no primeiro semestre deste ano, ante igual eríodo de 2018. O volume não passa de R$ 11,5 bilhões.

No ano passado inteiro, os desembolsos somaram R$ 31,5 bilhões. O recorde anual ocorreu em 2014 (R$ 91 bilhões), em meio à política de “campeões nacionais” da era petista.

Em 2015, com a crise já instaurada, o banco fechou a torneira e o volume de desembolsos caiu para R$ 66,1 bilhões. No ano seguinte, tombou mais 56%, para R$ 28,8 bilhões. Desde então, o volume nunca ficou muito distante de R$ 30 bilhões.

A história não é contada apenas pelo lado da oferta; a demanda também minguou. Entre 2014 e 2015, as consultas para financiamento à infraestrutura despencaram de R$ 139,2 bilhões para R$ 57,9 bilhões. No primeiro semestre deste ano, somaram R$ 8,3 bilhões.

“Talvez um papel importante que o BNDES possa vir a ter seja na reestruturação de projetos hoje em situação difícil”, afirma Cláudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B.

A economista Monica de Bolle, diretora do programa de estudos latino-americanos da Universidade Johns Hopkins, é mais enfática. “É difícil imaginar como o investidor sozinho, sem apoio do BNDES, vai parar no Brasil. Não vejo isso acontecendo em um horizonte minimamente rápido.”

Especialistas dizem que o banco terá papel importante também em áreas em que o retorno social é maior do que ganhos privados, como saneamento.

“É importante continuar com o banco para avançar em ações que o BNDES fez no sentido de romper restrições ao crescimento do país”, diz Venilton Tadini, presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).