Valor Econômico
28/01/2021

Por Alessandra Saraiva e Juliana Schincariol

Para Gustavo Montezano, a crise econômica gerada pelo coronavírus está chegando ao fim com o início da vacinação

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vê a inadimplência em um patamar “super salutar”, que deve ter continuidade em 2021, segundo o presidente da instituição, Gustavo Montezano. “Até o momento vemos uma inadimplência saudável em nossa carteira”, disse o executivo, ao participar nesta quinta-feira da Credit Suisse Latin America Investment Conference.

Com exceção de setores como entretenimento e bares e restaurantes, apesar das condições sanitárias ainda trazerem certo grau de imprevisibilidade, outras áreas estão indo bem, fazendo caixa e até investimentos, na visão do presidente do BNDES. “Temos um ambiente extremamente positivo para essa retomada [no Brasil] parecido com o que vimos no início do século, em póspandemia”, disse ele.

As medidas emergenciais implementadas pelo banco tiveram impacto de cerca de R$ 130 bilhões, todas voltadas para empresas pequenas e médias, segundo Montezano. “Colocamos produtos no começo do segundo semestre que foram muito bem recebidos pelo mercado”, disse, citando uma atuação por meio de seguros de crédito.

Para o executivo, a crise econômica gerada pelo coronavírus está chegando ao fim com o início da vacinação. “Ainda estamos atravessando o fim da crise, acreditamos que está no final por causa da vacina”, disse.

Em sua apresentação, Montezano também disse que vê apetite “extremamente alto” por ativos brasileiros em um ambiente em que há carência por ativos globais. Há expectativa também pela entrada em um ciclo econômico de crescimento onde o carro-chefe será o setor de infraestrutura.

Para o executivo, o interesse de investidores pela Cedae, empresa de água e esgoto do Rio, é bom e deve “surpreender o mercado”.

O governo do estado do Rio confirmou que o edital para a concessão dos serviços de saneamento da Cedae será publicado na próxima terça, dia 29. A medida permite o avanço no processo de licitação da empresa, considerado fundamental para universalizar o acesso a água e esgoto pela população fluminense.

O leilão de concessão tem outorga mínima de R$ 10,6 bilhões, dos quais R$ 8,5 bilhões ficarão com o governo estadual. Um dos interessados, como já informou o Valor, é o grupo Águas do Brasil. A companhia, que tem forte operação no Estado, está de olho no projeto desde que foi anunciado e tem poupado fôlego financeiro para a concorrência.

Devolução de recursos ao Tesouro

Montezano disse que a devolução de recursos ao Tesouro Nacional será retomada este ano e que, no mais tardar, até abril o cronograma dos pagamentos será definido. “O banco fechou o ano com mais de R$ 150 bilhões de liquidez. Temos uma liquidez relativamente confortável para continuar esse cronograma de devolução”, disse.

As datas em valores a serem devolvidos ainda estão em aberto, segundo o executivo. O Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério da Economia, através do Tesouro Nacional, deram um prazo de 60 dias para que chegassem a um comum acordo. “Ainda não existe cronograma fixo e final sobre isso. Estamos revisando nossos planejamentos, situação de liquidez e projeção de capital do banco para que até o fim de março, no mais tardar abril, para que possamos ter um cronograma fixo e definitivo”.

Na apresentação, Montezano voltou a falar das cinco metas do banco para 2021, como a continuidade da política de desinvestimentos em participações do BNDES em empresas negociadas em bolsa. As outras metas incluem a postura do banco em se tornar cada vez mais um modelador de projetos; aprimorar desenvolvimento de project finance no país; aprimorar e melhorar ferramentas de crédito em micro e pequenas empresas; e tornar o banco cada vez mais alinhado às metas de ESG (governança ambiental, social, e corporativa, na sigla em inglês).