Água digital”: Indústria 4.0 abre novas perspectivas e inovações para o saneamento

Acredita-se que já estamos na quarta revolução industrial, marcada por realidades como a robótica, Internet das Coisas (do inglês Internet of Things, ou IoT), aprendizado de máquina, conceito associado à inteligência artificial (machine learning), como tratar massivos volumes de dados (big data analytics), sistemas controlados por algoritmos de computador (cyber physical systems), M2M ou comunicação com ou sem fio entre equipamentos (machine to machine) ou armazenamento, gerenciamento e processamento de informações de forma remota com conexão à internet (cloud computing). Não por acaso, o termo Indústria 4.0 busca conceituar esse ambiente de automação industrial integrado a diferentes tecnologias de modo a digitalizar o dia a dia do processo fabril a fim de  alcançar a melhoria de processos e o aumento de produtividade.

Em entrevista exclusiva ao portal da Aesbe, o gerente de Novos Negócios e Inovação da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), Altamar Alencar Cardoso, salientou que a grande vantagem para o consumidor no contexto da Indústria 4.0 é a capacidade de as empresas fornecerem serviços customizados às suas necessidades individuais, por um custo de produção em massa. Como exemplo de um novo conceito que está em construção – o da “Água Digital” – ele ilustra uma situação que relaciona saneamento básico e integração tecnológica. “Seria possível atender uma pequena parcela dos clientes que desejam consumir água de forma pré-paga, mesmo que a grande maioria opte pelo modelo predominante, de pagar pelo que consumir. Ou obter uma tarifa diferenciada a partir do horário de consumo. Os clientes que optarem por um consumo nos horários em que a pressão da rede tende a subir teriam um custo menor; ou ainda, independentemente do canal de atendimento que o cliente escolher, ele vai receber um atendimento com mesmo grau de eficiência”, explicou.

As previsões, envolvendo o trabalho cotidiano de uma companhia estadual para a sociedade, vão além. Ainda respeitando o sigilo dos dados pessoais, em consonância com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), pode haver um mercado de dados que possibilitará o surgimento de novos modelos de negócios. Tais informações serão utilizadas para que novos serviços e produtos sejam oferecidos de forma cada vez mais customizada, algo parecido já é feito com os dados de gastos de cartão de crédito. O resultado seria que, além de permitirem uma maior transparência dos processos da empresa, possibilitaria um controle social mais efetivo por parte do poder concedente e da sociedade que usufrui de um dado sistema de abastecimento.

Por que a Indústria 4.0 é importante para as empresas de saneamento:

  • Permite conhecer melhor o seu cliente para poder atender às suas expectativas, como forma de consumo dos serviços, atendimento, serviços acessórios, valorização de ações socioambientais da empresa;
  • Aumenta a velocidade da tomada de decisão e sua descentralização, sistematizando informações de toda a empresa e disponibilizando para as áreas de atendimento ao cliente e para os centros de controle operacional tomarem decisões como o corte de um cliente, manobra de uma adutora, etc.

Internet das Coisas

Para o desafio de definir as principais tecnologias utilizadas para se otimizar o uso da água por parte das empresas, as Revisões Sistemáticas da Literatura mostram que o termo Indústria 4.0, e outras nomenclaturas relacionadas ao termo, se baseiam em dois paradigmas tecnológicos: IoT (Internet of Things) e CPS (Cyber Physical System). O conceito de IoT abrange não só os sensores inteligentes, mas uma ampla variedade de fontes de informações que trafegam pela internet, como: o IoP (Internet of People), IoS (Internet of Service), IoD (Internet of Data). Ou seja, tudo o que é capaz de gerar dados na internet é passível de ser utilizado como informação útil para aumentar a eficiência e customização dos serviços.

Já o CPS é a integração do mundo cibernético com o mundo físico. Um exemplo disso, para o saneamento, seria um sistema de abastecimento digitalizado em um ambiente para simulação computacional, alimentado com informações reais de pressão, vazão, clima, postagens em redes sociais sobre vazamentos e falta d’água, entre outras fontes de dados relevantes para um processamento por algoritmos de inteligência artificial capaz de tomar decisões e atuar sobre válvulas e bombas. “Isso permitiria garantir o abastecimento na pressão adequada em cada ponto da rede, identificar com maior velocidade e precisão os vazamentos de rede, reduzir o consumo de energia e prolongar a vida útil da rede de abastecimento”, aponta Altamar Cardoso.

Governança

Cada vez mais, a sociedade pede inovações tecnológicas que comunguem sustentabilidade e redução de custos econômicos. No saneamento não é diferente. O principal desafio é saber adquirir. “Ou seja, um mercado de potenciais produtos e serviços sem um mínimo de eficiência é susceptível ao oportunismo e ao risco moral devido às assimetrias de informação”, lembrou Altamar Cardoso. Segundo o gestor, como a Indústria 4.0 abarca um vasto conjunto de novas tecnologias, leis, normas e padrões que ainda estão sendo construídos e validados. “Poucas empresas oferecem parte do que seria uma Indústria 4.0 completa; na própria Alemanha, a grande maioria dos projetos afins não obtiveram o resultado esperado”, destaca.

Desse modo, é importante saber que, em algum momento, todos dados deverão convergir. Essa seria a primeira regra de design – a interconexão dos sistemas. “As organizações devem escolher projetos que façam sentido financeiro no curto prazo: redução de custos ou aumento de faturamento, mas com a sensibilidade que estes projetos deverão dialogar com algo maior num futuro próximo”.

Por fim, outra recomendação é: antes de investir na modernização tecnológica, seja 4, 3 ou 2.0, é fundamental capacitar o pessoal interno para adotar tais tecnologias. “Isso parece ser lógico, mas é muito comum ouvir falar de projetos de automatização e informatização que ficaram obsoletos muito rapidamente devido à falta de capacidade de manutenção da organização. Portanto, capacitar e envolver os funcionários nos processos de adoção de qualquer tecnologia, deve ser o primeiro passo. Será fundamental para saber comprar, manter e expandir as tecnologias de interesse da organização”, concluiu Altamar Cardoso.

Responsabilidade social

Segundo a Confederação Nacional da Indústria, nos últimos anos o uso das tecnologias digitais no ambiente industrial brasileiro permitiu aumentar em 22%, em média, a capacidade produtiva de micro, pequenas e médias empresas dos segmentos de alimentos e bebidas, metalmecânica, moveleiro, vestuário e calçados. Além disso, engana-se quem pensa que esse novo cenário é sinônimo de automação e desemprego. Com qualificação, os trabalhadores podem experimentar novas carreiras. Veja algumas profissões voltadas para Indústria 4.0:

Setor Automotivo

  • Mecânico de veículos híbridos;
  • Mecânico especialista em telemetria;
  • Programador de unidades de controles eletrônicos;
  • Técnico em informática veicular.

Tecnologias da Informação e Comunicação

  • Analista de IoT (internet das coisas);
  • Engenheiro de cibersegurança;
  • Analista de segurança e defesa digital;
  • Especialista em big data.

Setor de Alimentos e Bebidas

  • Técnico em impressão de alimentos;
  • Especialista em aplicações de TIC para rastreabilidade de alimentos;
  • Especialista em aplicações de embalagens para alimentos.

Construção Civil

  • Integrador de sistema de automação predial;
  • Técnico de construção seca;
  • Técnico em automação predial;
  • Gestor de logística de canteiro de obras.

Têxtil e Vestuário

  • Técnico de projetos de produtos de moda;
  • Engenheiro em fibras têxteis;
  • Designer de tecidos avançados.

Fonte: Portal de Indústria (CNI).

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