Valor Econômico
02/01/2019

Por Isabel Filgueiras

Cenário econômico mais favorável anima diferentes setores

Depois de um 2018 ruim, marcado por desvalorizações, um grupo de ações deu a volta por cima e acumulou ganhos expressivos em 2019. Levantamento feito pelo Valor Data com os papéis do índice de Governança Corporativa (IGC) e do IBrX 100 há um dia Finanças (índice com as 100 empresas com maior valor de mercado) mostra que, de 195 ações avaliadas, 55 tiveram um ano muito melhor e passaram do campo negativo para o positivo. Dentre os destaques, ficaram papéis do setor alimentício, sobretudo frigoríficos. Também se sobressaíram algumas varejistas e empresas ligadas a educação, saúde e infraestrutura (rodovias e saneamento). Mas o que mudou para que esses papéis conseguissem virar o jogo?

O economista da Órama e professor do Ibmec-RJ, Alexandre Espírito Santo, avalia que 2018 marcou o fim de um ciclo que prejudicou muitos desses setores. Portanto, 2019 foi de novas perspectivas, um recomeço. Segundo ele, os juros altos, desemprego elevado e grande capacidade ociosa acabaram prejudicando setores que dependiam do consumo e de investimentos privados para prosperar. Ele conta que empresas de educação passaram por um panorama desafiador com os cortes no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

A massa de desempregados recorreu mais ao Sistema Único de Saúde (SUS) e reduziu os gastos com a saúde privada. E sem emprego, o consumo cai. Por isso, o varejo foi um dos mais prejudicados. “Aqueles setores que sofreram serão beneficiados com essa perspectiva melhor. Além disso, o setor de serviços ganha muita relevância na reconstrução da economia, assim como investimentos em infraestrutura, saneamento e tecnologia, até porque a tecnologia de telefonia 5G vai demandar fortes gastos em breve”, afirma.

Espírito Santo atribui a mudança de pano de fundo à redução de juros e às reformas estruturais do novo governo. Para o especialista, isso criou um ambiente macroeconômico em que o consumo das famílias e os investimentos das empresas deverão ganhar tração. “Diante desse novo cenário, empresas desses setores se destacaram em 2019 e devem continuar atrativas, contudo em velocidade inferior à desse ano. Todavia, sou otimista com o PIB de 2020 (2,3%) e redução do desemprego, para abaixo de 10%, o que potencialmente gerará um ciclo virtuoso, devendo levar o Ibovespa para a faixa dos 125 mil ou 130 mil”, diz. De acordo com o presidente da Constellation Investimentos, Florian Bartunek, muitas dessas ações têm uma coisa em comum: fazem parte de empresas que, apesar de consolidadas no mercado, não são líderes em seus respectivos setores. Segundo ele, isso ocorre quando o mercado de ações está num movimento de ascensão, com preço subindo, o chamado “bull market”.

Ele afirma que as ações de empresas menores que se valorizaram no ano também ganharam mais liquidez. “As pessoas comprando um pouco de cada ação dessas acaba mexendo muito na liquidez”, diz. Bartunek destaca que algumas das ações que se destacaram em termos de recuperação no ano passaram por algum tipo de transformação. No caso de Via Varejo, mudou de controle. Já a Qualicorp foi adquirida pela Rede D’Or. A Marisa, pontua, também passa por momento de transição. ”Tem coisas interessantes e pontuais de cada companhia”, diz.

Para o especialista, 2020 promete ser um ano de crescimento heterogêneo, que trará oportunidade de crescimento para empresas grandes e pequenas.

A analista Julia Baltieri, da Cardinal Partners, lembra que as empresas de educação estão no final de um ciclo negativo de queda de base de alunos pela drástica redução do financiamento público do Fies desde 2015. “Após anos de redução de utilização de capacidade instalada – dada a menor concessão do financiamento público, que não foi inteiramente compensada pelos financiamentos privados das instituições e pelos alunos pagantes -, a perspectiva é de que 2020 seja o primeiro ano de estabilização na base de alunos das principais empresas, visto que 2019 foi o último ano de grandes formaturas de Fies”, afirma. Segundo ela, o setor tem melhores perspectivas para este ano. Julia explica que algumas dessas empresas têm tido melhora de eficiência operacional, o que também explica o desempenho positivo em 2019.

Ronaldo Kasinsk, também da Cardinal Partners, destaca que o setor de frigoríficos teve forte valorização em 2019. Segundo ele, o movimento foi fruto de uma combinação de fatores como aumento de preços (amplificado pelo choque de oferta em decorrência da gripe suína africana); melhora no perfil de dívida e redução de despesas financeiras das empresas; e aumento na geração de caixa. “Acreditamos que a tendência de recomposição de margens e melhora no ambiente de consumo (doméstico e internacional) vistos em 2019 devem persistir em 2020, e que devem contribuir para mais um ano de boa performance das ações na bolsa.”