Por Rodrigo Rocha e Camila Maia – Valor Econômico

15/01/2019 – 05:00

Novas declarações do secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, deram mais fôlego às ações da Sabesp, que desde o início de 2019 registram forte valorização. No pregão de ontem, o papel subiu 5,34%, para R$ 41,60, fechando em sua máxima histórica. No ano, o ganho acumulado é de 32,06%. Em valor de mercado, o avanço chega a R$ 6,9 bilhões.

A continuidade das especulações em torno de uma privatização ou ao menos uma capitalização iniciaram a movimentação de parte dos analistas de mercado, que começam a projetar um cenário de venda da maior empresa de saneamento do país.

Os entraves ainda são muitos, sendo o maior deles a necessidade de aprovação da medida provisória (MP) 868, assinada pelo ex-presidente Michel Temer em dezembro, e que altera o marco regulatório do setor de saneamento. Sem a MP, a transferência de uma companhia estadual para a iniciativa privada implicaria na necessidade de refazer grande parte dos contratos com os municípios. A Sabesp está presente em 368 cidades paulistas.

Na sexta-feira, Meirelles afirmou que espera concluir ainda neste ano a capitalização ou a privatização da Sabesp – a escolha vai depender da MP 868.

No caso da capitalização, a expectativa é que sejam captados R$ 5 bilhões, do quais R$ 1 bilhão iria para investimentos da empresa. Os R$ 4 bilhões restantes seriam destinados ao orçamento do Estado, com a Sabesp mantida sob controle do governo paulista.

Com relação à privatização, Meirelles indicou que a soma “provavelmente” poderia chegar ao patamar de dois dígitos.

Dois bancos, Bradesco BBI e UBS alteraram os preços-alvo dos papéis da companhia, levando em conta cenários de ao menos melhoria de governança e do ambiente regulatório.

O Bradesco recomendou compra das ações, com preço-alvo de R$ 56. O preço é estimado levando em conta o múltiplo EV/RAB de 1,1 vez, sendo EV o “enterprise value”, calculado pelo valor de mercado da empresa somado à dívida líquida, e a RAB é sigla em inglês para base de ativos regulatórios. O múltiplo está alinhado com o da mineira Copasa, outra estatal de saneamento com chance de privatização.

Já o UBS tem recomendação neutra, estimando preço do papel em R$ 41. “Declarações recentes do governador de São Paulo, João Doria, e do secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, sugerem um governo com menos interferência e um melhor ambiente regulatório”, afirmam os analistas do UBS.

Em nota para clientes, o Credit Suisse destacou que é cedo para se pensar em privatização da companhia, mas fez estimativas do potencial de valorização das ações. Os cálculos do banco são de que as ações da Sabesp podem chegar a valor justo próximo dos R$ 56,00.

As instituições também incluíram a entrada de Guarulhos na base de ativos da companhia, cujo contrato de operação por 40 anos foi assinado no mês passado.

Apesar do movimento do mercado, parte dos analistas considera precipitado fazer cálculos no momento. Segundo disse um analista ao Valor, há muitas variáveis no caminho até uma possível privatização, sendo a maior delas a aprovação da MP, que tem seis meses para ser votada no Congresso.