Valor Econômico
02/12/2019

Por Marina Falcão

Governo de Pernambuco planeja levar a empresa à bolsa sem perder o controle sobre a estatal

O governo de Pernambuco pretende destinar os recursos da oferta pública inicial da Compesa, estatal de abastecimento, para capitalizar a empresa e, com isso, reduzir a necessidade de aportes na companhia para fazer frente aos seus planos de investimento.

A ideia é levar a Compesa à bolsa de valores sem abrir mão do controle acionário da empresa. “Só haveria necessidade de aprovação de uma nova lei se o Estado tivesse intenção de vender o controle, o que não é o caso”, afirmou o deputado estadual Isaltino Nascimento (PSB), ao Valor. O deputado é líder da bancada governista no legislativo estadual.

A empresa tem em seu portfólio um contrato de Parceria Público-Privada (PPP) que prevê investimento de cerca de R$ 3,5 bilhões do parceiro privado, a BRK Ambiental, além de R$ 1 bilhão do próprio caixa e do tesouro do Estado de Pernambuco. A concessão deve implantar 9.000 quilômetros de redes de esgoto, beneficiando 3,7 milhões de pessoas e aumentando a cobertura de esgoto na região de 30% para 90% nos próximos 12 anos.

Nos últimos cinco anos, os investimentos da Compesa mais que duplicaram, de R$ 488 milhões, em 2015, para estimado R$ 1 bilhão neste ano, segundo demonstrações financeiras da companhia.

Apenas em 2018, a Compesa investiu cerca de R$ 351 milhões na melhoria e expansão dos serviços de água, e mais de R$ 356 milhões na área de esgotamento sanitário, o que beneficiou 300 mil pessoas.

No ano passado, a Compesa teve receita líquida de R$ 2,14 bilhões, alta de 17,75% em relação à 2017. Até o fim do terceiro trimestre deste ano, a receita líquida somava R$ 1,54 bilhão.

Antes do juros e dos impostos, a empresa teve R$ 273 milhões em 2018, um aumento de R$ 7,2 milhões sobre o ano anterior. O lucro líquido ficou em R$ 194,22 milhões, avanço de 6%.

Ao fim de setembro, a empresa pernambucana tinha dívida de R$ 280 milhões e R$ 93 milhões em caixa. O patrimônio líquido da empresa era de R$ 6,1 bilhões.

A empresa enviou solicitações de propostas para coordenação da sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), segundo divulgou o Valor na quinta-feira. O plano da empresa é fazer a oferta no primeiro trimestre do próximo ano.

A Compesa não é a única estatal de saneamento a planejar um IPO. A Saneago, estatal de Goiás, também já contratou os bancos que vão coordenar a oferta. Outras companhias, como a gaúcha Corsan, também estudam essa possibilidade, embora ainda em estágio menos avançado.

O movimento das empresas públicas, porém, é visto com ressalvas por analistas de mercado. A maior dificuldade é convencer os investidores a colocar recursos em uma empresa que continua sob controle estatal, o que implica amarras burocráticas e políticas. Outro fator que gera preocupação é a atuação pouco previsível dos órgãos reguladores, que definem os reajustes das tarifas – muitas vezes, com base em critérios controversos. (Colaborou Taís Hirata, de São Paulo)