Valor Econômico
13/05/2021

Por Aziza Kasumov e Siddharth Venkataramakrishnan

Lucros em alta e recuperação da economia deixam executivos mais confiantes para gastar excesso de caixa

As empresas pelo mundo se preparam para lançar uma onda recorde de recompra de ações, uma vez que os executivos sentem-se mais confiantes em gastar o excesso de caixa depois de uma ótima temporada de lucros e de os rumos da economia mundial terem ficado um pouco mais claros.

Empresas americanas anunciaram planos de recompra de ações de US$ 484 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, maior patamar em pelo menos 20 anos, segundo o Goldman Sachs.

Os planos prenunciam uma grande aceleração no ritmo das recompras, que já começaram a se recuperar em relação aos pontos mais baixos de 2020, quando a pandemia levou as empresas a acumular caixa para o caso de um longo retrocesso econômico.

No que os analistas vêm apelidando de “bonança de recompras”, o Goldman Sachs projeta que as empresas americanas recomprarão 35% a mais do que em 2020. Na Europa, o ritmo parece estar um pouco mais lento do que nos EUA, mas, ainda assim, o Société Générale prevê que as recompras poderiam aumentar 25% em relação ao nível da pandemia.

Howard Silverblatt, analista sênior de índices na S&P Dow Jones Indices, disse que, embora as incertezas continuem, as empresas estão ficando mais confiantes quanto a suas perspectivas.

“A situação está melhorando e as empresas estão com um fluxo de caixa um pouco melhor”, disse. “Antes, você tinha milhares de cenários, agora, talvez você tenha apenas uma centena, então, fica um pouco mais fácil pensar.”

Para as empresas, recompras de ações podem ser alternativa interessante aos dividendos, no que se refere a devolver capital aos acionistas. Diferentemente dos dividendos, recompras de ações podem ser facilmente ampliadas ou interrompidas, dependendo da necessidade, o que permite às empresas aplicá-las da forma mais conveniente. Elas também reduzem o número de ações em circulação, o que ajuda a elevar o lucro por ação.

Grandes grupos de tecnologia, cujos negócios se aceleraram durante a pandemia, estão entre as empresas que ampliaram com mais vigor as autorizações de recompras. Em abril, Apple e Alphabet anunciaram planos adicionais de recompras de US$ 90 bilhões e US$ 50 bilhões, respectivamente.

Os planos de recompra, no entanto, já se disseminaram por todos os setores. “Suspendemos as recompras no ano passado por causa da incerteza”, disse James Saccaro, diretor de finanças da empresa Baxter, da área de saúde, em conferência na terça-feira. A empresa decidiu retomá-las ainda no quarto trimestre de 2020. “Gostamos de fazer isso.

Analistas dizem que os bancos também estão interessados em voltar a recomprar em grande escala, uma vez que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) vem abrandando as restrições da era da pandemia à devolução de dinheiro aos acionistas.

Jamie Dimon, executivo-chefe do JPMorgan, cujo conselho de administração deu luz verde em dezembro a um programa de recompra de US$ 30 bilhões, disse em abril que seu banco está “recomprando ações porque” estão “com mais do que precisam”. As recompras já concretizadas de fato ainda estão atrás dos níveis de 2020, segundo a S&P Global.

Até a semana passada, com mais de 80% das empresas integrantes do índice S&P 500 tendo anunciado os resultados, as empresas divulgaram que, no total, recompraram US$ 140 bilhões em ações no primeiro trimestre. O valor supera o dos três trimestres anteriores, mas é inferior aos US$ 199 bilhões do primeiro trimestre de 2020.

Nas últimas semanas, empresas tanto nos EUA quanto na Europa, divulgaram fortes lucros no primeiro trimestre, o que fez os analistas correrem para revisar para cima suas previsões. 

As empresas do S&P 500 encaminham-se a ter um aumento médio em torno a 50% na comparação anual de seus lucros trimestrais, enquanto as do índice referencial europeu Stoxx 600, também com alguns poucos balanços faltando, rumam a um aumento médio de 90%, de acordo com a Refinitiv.

Estrategistas preveem que o ritmo das recompras aumentará com mais rapidez do que o dos dividendos. “Quando você aumenta o dividendo, [depois] é doloroso cortá-lo”, disse Roland Kaloyan, chefe de estratégia de renda variável europeia do Société Générale. “Quando você tem dinheiro extra, é mais fácil recomprar algumas ações. Se você tiver más notícias ou uma nova crise, sempre pode [interromper] seu programa de recompras.”