Dia Internacional da Mulher

Manuela Marinho compartilha as lutas e conquistas de sua trajetória até a presidência da Compesa

Celebrado mundialmente no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher foi estipulado depois que o Partido Socialista da América organizou uma jornada de manifestação pela igualdade de direitos civis e em favor do voto feminino. Em comemoração à data, a Aesbe conversou com a presidente da Companhia Pernambucana de Saneamento – Compesa, Manuela Marinho.

Engenheira civil, Manuela se formou na Universidade Federal de Pernambuco e é pós-graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho. Atuando desde 2013 no Governo de Pernambuco, a presidente comandou a pasta de Turismo, Esportes e Lazer do Estado e esteve à frente da área de transportes na Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra).

Em agosto de 2019, Manuela recebeu o convite do governador Paulo Câmara para atuar como a primeira mulher a ocupar o cargo da presidência em quase 50 anos da companhia estadual. 

Aesbe: Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória profissional até chegar na presidência da Compesa.

Manuela Marinho: Eu sou engenheira civil, uma área que muitos consideram masculina, mas para mim isso nunca foi um problema. Passei no concurso para auditor fiscal na Paraíba e então fui cedida para o Governo de Pernambuco.  Em 2016, fui convidada para assumir o cargo de Secretária Executiva do Programa de Desenvolvimento do Turismo de Pernambuco (Prodetur). Noventa por cento das ações desse programa eram obras de restauração voltadas para o estímulo ao turismo. Na época, conseguimos completar o Prodetur como um dos melhores do Brasil. Em 2019, estive à frente da área de transportes na Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra), até receber a indicação para a presidência da Compesa pelo governador Paulo Câmara.

Aesbe: Pela primeira vez, em quase 50 anos de história, a Compesa é comandada por uma mulher. Você sentiu algum desafio específico ao assumir o cargo decorrente de questões relacionadas ao seu gênero?

Manuela Marinho: De fato, quando aceitei o convite do governador, não imaginava a quantidade de desafios que existem em levar água e esgotamento para o Estado que tem a menor disponibilidade hídrica do País.  No entanto, mesmo liderando tantos homens, não notei nenhuma dificuldade de aceitação. Pelo contrário, todas as reuniões são muito bem recebidas pela forma democrática e transparente que são realizadas. Isso, de certa forma, desarma muitos pensamentos ou ações que possam atrapalhar uma gestão feminina. 

Aesbe: Há alguma figura feminina que a inspire nessa trajetória?

Manuela Marinho: Ao longo da minha história, escritoras e ativistas como Frida Kahlo e Cora Coralina me inspiraram. Além disso, muitas mulheres pernambucanas me mostraram a força e a beleza de vencer.  Eu espero que um dia eu inspire minhas filhas, assim como minha mãe me inspirou. Ela é médica, e venceu através da ética, do amor, do compromisso à medicina e pela dedicação às pessoas menos favorecidas.

Aesbe: Que conselho daria às empresas que desejam contribuir para um mercado mais igualitário?

Manuela Marinho: Aqui na Compesa desenvolvemos a política de diversidade e inclusão. Com 22%, hoje nós somos a companhia estadual com percentual mais alto de cargos de chefia e alta gestão ocupados por mulheres. Além disso, estimulamos o aperfeiçoamento profissional das mulheres e investimos em cursos profissionalizantes de serviços desenvolvidos comumente por homens.

Aesbe: Você pode nos passar um panorama que mostre como o saneamento impacta de forma significativa a vida das mulheres?

Manuela Marinho: Já mudamos muitas realidades de mulheres com a chegada do saneamento. Aqui, temos uma comunidade quilombola, que, com a chegada da água, começou a vender alimentos. No dia da inauguração das obras no local, descobri histórias de mulheres que puderam desenvolver uma atividade econômica e abrir um pequeno negócio através da água e, assim, mudaram a qualidade de vida que oferecem à família.

Aesbe: Você assumiu a presidência da Compesa em 2019 e, em poucos meses, já começou a lidar com a pandemia do coronavírus, assumindo responsabilidades que não estavam nos planos. O que você leva de aprendizado do ano de 2020?

Manuela Marinho: Nunca uma crise de saúde esteve tão atrelada às questões sanitárias. Por isso, além da resiliência e de buscar soluções rápidas, nosso banco de dados e nosso setor de tecnologia precisaram estar preparados.

Ademais, temos trabalhado com muita empatia, pensando em quem está precisando receber os nossos serviços. Entre as ações que desenvolvemos na pandemia, nós produzimos mais água, isentamos contas, distribuímos gratuitamente e realizamos a captação de caixas de água (com parceiros privados), ampliamos o uso de carros pipa (até para quem não é cliente da Compesa) e implantamos lavatórios em terminais rodoviários e feiras livres. Produzimos muito e ainda procuramos cortar gastos.

Aesbe: Para você, o que torna o dia 8 de março especial? 

Manuela Marinho: Penso que estamos escrevendo nossa história. Há pouco tempo nós conquistamos o direito ao voto e agora já estamos ocupando cada vez mais cargos de gestão, que antes eram dominados por homens. Temos contribuído para mudar a realidade com liderança, diálogo e capacidade técnica, e isso torna o dia da mulher muito especial.

Aesbe: Qual mensagem você deixa para as mulheres? 

Manuela Marinho: Continuamos com muitos desafios. Entre eles, ser mãe e profissional pode ser um dos mais difíceis. No entanto, não devemos abrir mão da realização profissional, assim como da maternidade, pois uma completa a outra. Que a gente continue travando essa luta sem se calar, mostrando ao mundo, com doçura e feminilidade, a nossa competência para mudar a realidade para melhor.

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