Valor Econômico
16/01/2020

Por Gustavo Ferreira

Retomada do ímpeto da atividade será uma consequência natural em 2020, projeta Alexandre Espirito Santo

Os dois anos anteriores começaram como este, prometendo marcar a retomada do crescimento mais forte da economia brasileira. Como se sabe, isso não aconteceu. Mas para Alexandre Espirito Santo, economista da Órama, este filme não se repetirá pela terceira vez em 2020. Avanço de reformas e o cenário de juros baixos devem garantir, na opinião dele, um ano sem previsões frustradas.

Em suas recém-lançadas projeções para a economia brasileira, a plataforma de investimentos Órama projeta avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,5% neste ano, sob expectativa de sucesso das reformas no Congresso e da manutenção dos juros baixos. A previsão é um pouco mais otimista que a mediana do mais recente boletim Focus, do Banco Central: 2,3%.

Para Espirito Santo, após a aprovação da reforma da Previdência, a confiança de empresários e investidores está de volta. “A reforma não é última bolacha do pacote, é verdade, mas uma poupança de quase R$ 1 trilhão em dez anos não é nada desprezível.”

O economista entende que, com o processo de reformas em curso, incluindo as administrativa e tributária, a retomada do ímpeto da atividade será uma consequência natural em 2020.

 “Estamos vendo uma série de notícias de empresas sinalizando novos investimentos”, explica. “Já fizeram isso lá atrás, mas fizeram quando a gente ainda tinha muita dúvida no ar.”

Além da confiança em alta, o professor do Ibmec-RJ e colunista do Valor Investe destaca ainda que o custo de oportunidade de investir no setor produtivo, agora, está mais interessante que nos dois últimos anos – em que a Selic, é bom destacar, já estava em patamares historicamente baixos. “Antes, para fazer uma nova fábrica no Brasil, um empresário tinha de abrir mão de títulos públicos rendendo na casa dos dois dígitos”, diz. “Agora, abre-se mão de juro real praticamente zero.”

Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, apontou o saneamento básico, que hoje atende a apenas metade dos brasileiros, como o “novo pré-sal”. Espirito Santo diz que “não faria uma hipérbole tão grande”, mas que concorda que esse será um dos motores principais do crescimento brasileiro daqui em diante. “A infraestrutura será, com a taxa de juros baixa, a grande força motriz da recuperação”, diz. “Soma-se ao mercado imobiliário aquecido, com muito emprego direto e indireto podendo ser gerado.”

Além disso, segundo ele, o fim do represamento de capital pelo qual o Brasil passou nos últimos anos deve impactar o mercado de ações brasileiros com força. “Muito provavelmente, vamos ver neste ano uma grande onda de abertura de capital de empresas na bolsa [IPO, na sigla em inglês]”, diz. Espirito Santo cita ainda o resgate do mercado de capitais brasileiro em 2019, que teria sido “dizimado” nos últimos anos. “Isso vai ajudar muito na expansão da produção e do PIB”, diz o especialista. Para que as estimativas otimistas de Espirito Santo se concretizem, as reformas precisam continuar caminhando. O que, diz o economista, tem a favor de si o entendimento da classe política. “O Congresso percebeu que as reformas são imperativas”, afirma o executivo da Órama. “Não adianta você carregar o governo que está no poder sem fazer o precisa ser feito, isso não funciona”, completou.

A série de ruídos e polêmicas nas quais o Planalto se envolve pode atrapalhar a efetivação desses prognósticos, reconhece o economista. Mas ele sustenta que congressistas demonstraram certo amadurecimento na atual legislatura e fizeram marchar mudanças estruturais importantes, apesar de tudo.

Além da reforma da Previdência, Espirito Santo aponta para a MP da Liberdade Econômica como uma demonstração dada no ano passado de que algo mudou, para positivo, entre os representantes eleitos do Brasil.

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