Valor Econômico
26/01/2021

Temores sobre o rompimento do teto de gastos gera distorções nos cenários base

Para o Brasil, o ano de 2020 iniciou com expectativas positivas sobre a performance da economia brasileira, e, já no primeiro trimestre, as dúvidas sobre a viabilidade de execução dos cenários otimistas e perspectivas de crescimento econômico se concretizarem pairavam sobre o mercado de capitais.

Notificações sobre um novo vírus, que se espalhava com grande rapidez pelo mundo, chegaram com intensidade e iniciaram um movimento de aversão a risco, que se agravaria em março, enquanto o país ansiava uma retomada de investimentos estrangeiros, após uma crise de confiança instalada nos anos precedentes.

Com o mundo praticando distanciamento social as empresas reduziram suas produções e o consumo de bens e serviços caiu drasticamente em oposição aos crescentes temores sobre a nocividade da chamada covid-19.

Os governos agiram no sentido de manter a economia saudável, por meio da derrubada da taxa de juros, planos de auxílio emergencial, políticas de isolamento e ampliação de amparo gratuito aos cidadãos, conjuntamente com investimentos para a descoberta da vacina. As empresas, por sua vez, se reinventaram, aplicando com maior rapidez os recursos tecnológicos e logísticos para manutenção da produção e atendimento às demandas dos consumidores.

Passados nove meses de diversos “circuit breaks”, a bolsa brasileira retomou ao patamar do início do ano e os investidores estrangeiros começaram uma retomada de busca por ativos de risco a fim de elevar sua rentabilidade e com o entendimento de que as vacinas, que já estão sendo aplicadas, deverão impulsionar os ativos brasileiros.

Para 2021, entendemos que para os empresários o legado da crise sanitária, que ainda persiste em alguns países, será de que as empresas precisam se adaptar rapidamente a diferentes cenários, e a tecnologia é imprescindível e precisa estar na rotina da companhia.

Para os investidores os reforços das orientações de educação financeira se mostraram eficientes e indispensáveis, como a necessidade de reserva de emergência e a diversificação de aplicações em renda fixa e variável, em empresas de diferentes setores, moedas e países.

Assim, além de um viés otimista, porém com manutenção de cautela em função da herança da pandemia, percebemos que os setores que deverão se destacar, como reflexo de uma retomada econômica gradual, com expectativa de elevação de receitas, beneficiados pelo aumento dos preços de commodities, manutenção de preferência por menor contato interpessoal e taxa de juros a níveis historicamente baixos serão: setor bancário (tanto os varejistas já existentes quanto os novos entrantes virtuais), construção civil e venda de imóveis, consumo e varejo, aluguel de carros, petróleo e siderurgia e mineração.

Lembramos ainda que os setores resilientes e com prestação de serviços básicos e contratos de longo prazo como o elétrico deverão continuar no radar como conservadores e bons pagadores de dividendos.

Pontuamos, ainda, que os investidores estrangeiros deverão apresentar menor aversão ao risco, com a indústria apresentando uma retomada de crescimento gradual, fundamentada por: novos acordos comerciais, definição do acordo do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), definição do presidente americano Joe Biden, políticas monetárias de relaxamento fiscal, o anúncio de novos estímulos econômicos e a vacina para a covid-19.

Para finalizar, destacamos que as variáveis ainda são inúmeras, com temores sobre o rompimento do teto de gastos, o que gera distorções nos cenários base e deixam claro a necessidade de uma reforma fiscal e administrativa.

Julia Monteiro é analista fundamentalista da My CAP

E-mail: julia.monteiro@mycap.com.br

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