Folha de São Paulo
09/09/2020

Em um ano, o volume de água acumulado nos mananciais que abastecem a Grande São Paulo teve queda de 21,2%, segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). As represas responsáveis por servir a população da região metropolitana perderam 286 hm³ (hectômetros cúbicos) de água, o equivalente a 286 bilhões de litros. Isso é suficiente para encher mais de 114 mil piscinas olímpicas.

No dia 9 de setembro do ano passado, os sete sistemas de mananciais responsáveis pelo abastecimento na Grande SP estavam com um total de 1.346,44 hm³ de água, volume que chegou ontem a 1.060,44 hm³ .

Para especialistas, a diminuição nos volumes se deve, principalmente, a dois fatores. O primeiro é a pandemia da Covid-19: durante boa parte do período de quarentena do novo coronavírus, grande parte da população ficou em casa e aumentou o consumo, inclusive para se higienizar.

“Na pandemia, as pessoas ficaram em casa e aumentaram o consumo, até para se higienizar. A própria Sabesp andou instalando torneiras públicas milímetros no Cantareira, enquanto a média histórica para o mês é de 47,7 milímetros.

Apesar da queda, o nível acumulado nas represas ainda é bastante superior ao que foi registrado em setembro de 2014, quando o estado foi fortemente afetado pela crise hídrica (https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/02/seis-anos-aposcrise-hidrica-represas-de-sp-estao-com-nivel-elevado-de-agua.shtml). Na ocasião, os seis mananciais que abastecem a região metropolitana somavam um total de 199,54 hm³ – o que representa 18,82% do volume atual.

Em 2014, a Grande São Paulo ainda não contava com o sistema São Lourenço, que foi inaugurado em 2018 pelo então governador Geraldo Santo André, Mogi das Cruzes, Suzano, Itaquaquecetuba, Arujá, Ferraz de Vasconcelos e Poá.

Proporcionalmente, o manancial que registrou maior queda foi o Rio Claro, cujo nível atual é 38,1% inferior ao do mesmo período de 2019.

O sistema Cantareira, que esteve no centro da crise hídrica de 2014, teve uma variação pequena na comparação com setembro do ano passado. O volume armazenado atualmente é de 452,43 hm³, 3,8% menos do que há 12 meses. Isso equivale a 46,1% de sua capacidade. Para se ter ideia, em 2014 o nível era considerado negativo, já que a água utilizada vinha das chamadas reservas técnicas conhecidas popularmente como volume morto.

O problema também preocupa municípios do interior paulista. Na cidade de Tanabi (530 km de SP), a prefeitura criou uma multa de R$ 272 para moradores que forem flagrados desperdiçando água. (https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/09/tanabi-no-interior-de-sp-multa-quem-desperdicaragua.shtml) Também na região noroeste de São Paulo, há possibilidade de implantação de um racionamento.

Cautela

Especialistas em gestão de recursos hídricos ainda não consideram a situação dos mananciais na Grande São Paulo como alarmante. Entretanto, avaliam que as autoridades do setor devem se manter em alerta para evitar situação semelhante à de 2014.

O professor de Engenharia José Roberto Kachel dos Santos, da Universidade de Mogi das Cruzes, explica que, se a partir de outubro, chover com forte intensidade as represas deverão se recuperar. “Porém, se a estação chuvosa for fraca e chegarmos a março de 2021 com esses índices, começa a ficar preocupante, podendo se agravar ainda mais em 2022”, comenta.

O engenheiro hídrico Antônio Eduardo Giansante, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ressalta as melhorias feitas. “Porém, temos que ficar atentos. É fundamental que sejam mantidas as campanhas para incentivar o consumo consciente”, analisa.

Resposta

A Sabesp (Companhia de Abastecimento do Estado de São Paulo), do governo João Doria (PSDB), cita melhorias feitas nos sistemas de abastecimento da Grande São Paulo e descarta risco de racionamento na região metropolitana.

Segundo a empresa, as obras feitas demandaram investimento de mais de R$ 20 bilhões. Entre as intervenções estão o aumento nas interligações.