Valor Econômico
07/10/2020

Por Álvaro Campos

Estudo da Capgemini mostra que 30% usam serviços das ‘big techs’ e 50% já aderiram a bancos digitais

Os volumes de transações digitais cresceram 14% em 2019, para US$ 708,5 bilhões, na maior expansão em uma década, segundo revela um novo estudo da consultoria Capgemini. A região da Ásia-Pacífico superou Estados Unidos e Europa, tornando-se a líder mundial, com um volume de US$ 243,6 bilhões.

Para este ano, apesar da pandemia ter impulsionado a fatia das transações digitais e levado muitos usuários a experimentarem pela primeira vez pagamentos via QR Code ou carteiras digitais, ao afetar severamente a economia global, a expectativa é de um crescimento da atividade menor e, consequentemente, de uma desaceleração no ritmo previsto de expansão das transações digitais. A Capgemini reduziu de 16,4% para 11,5% sua projeção para o crescimento anual das transações digitais de 2019 a 2024.

O estudo conta ainda com uma pesquisa realizada em julho e agosto, em que foram ouvidas 235 empresas de 44 países, além de 8,6 mil consumidores. Os dados não são segmentados por região, mas, segundo a vice-presidente de serviços financeiros da Capgemini no Brasil, Glória Guimarães, o mercado brasileiro segue a tendência global. “O brasileiro é muito mais ‘early adopter’ [aberto a novidades] de tecnologias do que o resto do mundo. A população jovem, o amplo acesso a smartphones, tudo isso facilita, e com a pandemia isso só se intensificou”, afirma.

Entre os ouvidos na pesquisa, 30% já utilizam os serviços das chamadas ‘big techs’ – como Google, Facebook, Amazon, Apple – para pagamentos, 50% já aderiram a um banco digital, enquanto 38% dizem que descobriram um novo provedor de pagamentos durante o isolamento e podem passar a usá-lo. “Google e Facebook não fazem segredo de que veem os pagamentos como uma forma de ganhar presença em mercados grandes e crescentes, como Brasil e Índia”, destaca o estudo.

Na pandemia, 41% dos usuários experimentaram pagamentos por aproximação, 35% dos que usavam cartão de crédito o adicionaram a uma carteira digital e 27% realizaram pagamentos via QR Code. O internet banking e transferências diretas entre contas são o meio de pagamento preferido, com 68%. Na sequência aparecem pagamento por aproximação (64%) e carteiras digitais, com 48%. A Capgemini estima que o número de usuários de carteiras digitais deve aumentar de 2,3 bilhões em 2019 para 4 bilhões em 2024, chegando à metade da população mundial.

Do lado das empresas, o estudo mostra que opções abundantes e inovação estão incentivando a competição e, à medida que o mercado se consolida, modelos de receitas e estruturas de custos estão sendo afetadas. “A incapacidade de ganhar escala e responder a mudanças no mercado pode pressionar estruturas de pagamentos antigas, e os ‘pontos de dor’ são numerosos”, destaca o estudo. Quando questionados sobre os fatores mais importantes para sua evolução nos próximos dois a três anos, 79% dos executivos citaram “inovações visíveis aos clientes”, 75% mencionaram a “transformação digital” e 73% disseram que é o “compliance regulatório”.

Sobre os pontos que podem ajudar a fortificar seus ecossistemas de produtos e serviços, os executivos citaram: ajudar parceiros a acelerar inovações (59%), explorar oportunidades de ‘banking as a service’ (54%) e evoluir digitalmente para oferece uma experiência agradável a o cliente.

Ao mesmo tempo em que sabem da importância da inovação, os executivos também têm receios. Para 87%, há uma alta probabilidade de vulnerabilidades cibernéticas. O estudo aponta que criminosos estão explorando as brechas abertas pelo isolamento social, que aumentam os ricos de ataques cibernéticos, lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.

Da mesma forma que quando você ia antigamente no banco depositar uma grande quantia de dinheiro você tomava as medidas de segurança necessárias, no digital também é assim, só que com muito mais recursos, porque há mecanismos de assinatura digital, inteligência artificial, machine learning, behavior score”, explica Glória.

Para ela, a legislação no Brasil, com a nova Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), está em linha com as melhores práticas mundiais e as instituições vêm trabalhando na adaptação há algum tempo, então não deve haver problemas de implementação.

Em termos de competição, o estudo mostra que os bancos globais estão adotando uma postura de “consertar e colaborar”, desenvolvendo capacidades internas e fazendo parcerias com novos participantes mais ágeis.