Folha de São Paulo

Por Eduardo Cucolo e Júlia Moura

Isso ocorre por conta da expectativa de queda da inflação nos próximos meses

Com a redução da taxa básica (Selic) para 4,25% ao ano, o Brasil continua com juros reais positivos. Ou seja, uma aplicação financeira que renda esse percentual durante os próximos 12 meses terá resultado superior ao da inflação projetada pelo mercado financeiro para o mesmo período.

De acordo com cálculos da gestora Infinity Asset Management, o juro real no Brasil está em 0,91% ao ano. Isso ocorre por conta da expectativa de queda da inflação nos próximos meses, dos atuais 4,3% acumulados em 12 meses até dezembro para 3,4% ao final deste ano.

A taxa é inferior à verificada em países como México (3,2%), Rússia (1,79%), Turquia (1,51%) e África do Sul (1,45%).

As taxas estão negativas nas economias desenvolvidas (zona do euro, Reino Unido, EUA, por exemplo) e também algumas emergentes como Nova Zelândia, Israel, Chile, Hungria e Argentina. No caso do país vizinho, os juros continuam elevados (48% ao ano), mas a expectativa de inflação supera os 50%.

Os juros reais negativos ou próximos de zero fazem parte de um movimento internacional de corte nas taxas básicas de vários países diante de um cenário de fraco crescimento e inflação baixa em praticamente todo o mundo.

Esse movimento, no entanto, parece estar próximo do fim, tanto no exterior como no Brasil. De acordo com o levantamento da Infinity, de uma lista de 165 países, 82% mantiveram os juros nos últimos 45 dias (desde a última reunião do Copom), 13% optaram pelo corte e 5% elevaram as taxas.

O economista-chefe da Infinity Asset Management, Jason Vieira, afirma que o juro real do Brasil deve se estabilizar nesse patamar, considerando a expectativa de manutenção da taxa básica e de estabilidade nas estimativas de inflação. Apenas uma surpresa nos índices de preços poderia levar a uma queda no juro real neste ano.

“O máximo que pode acontecer é, se tiver perspectiva de um crescimento mais forte vai, você ter uma projeção de inflação mais alta e jogar o juro real para baixo”, afirma.

Para Antonio Lanzana, professor da FEA e copresidente da Fecomercio-SP, a redução dos juros reais pode ampliar a saída de investidores estrangeiros do Brasil, o que elevaria a cotação do dólar.

“O juro real negativo ou próximo de zero pode ter algum impacto sobre câmbio. Rendimento real de 0,25% ainda é algo para investidores vindos de economias com juro negativo”, diz.

O economista repete o ministro da Economia, Paulo Guedes, e afirma que “juros baixos e dólar alto vieram para ficar” e que, para controlar a inflação, o Brasil deve cortar gastos públicos e não mais elevar os juros.

“Quando o Chile tem pressão inflacionária, o governo diminui o gasto público, mas lá isso é mais flexível do que no Brasil”.

“Juros altos eram necessários para reorganizar país, mas não faz sentido você ganhar tanto [na renda fixa] sem fazer nada, sem nenhum risco. O investidor muito tradicional e fundos de pensão que ainda não adaptaram sua carteira de investimentos são os únicos que tem que se preocupar com juro negativo”, diz Lanzana