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12/06/2020

Biólogo alerta para o grande volume de esgoto que segue sendo jogado nos rios que deságuam na baía. Oceanógrafo da UERJ alerta que problema pode colaborar para a ocorrência de mais enchentes.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) registrou um aumento significativo no recolhimento de lixo flutuante e plantas na Baía de Guanabara durante o período de isolamento social. No período entre os dias 12 de março e 11 de maio deste ano, foram recolhidas 350 toneladas de detritos.

No mesmo período do ano passado, foram retiradas 170 toneladas de resíduos das águas. De acordo com o órgão estadual, o aumento no volume se deu por causa do maior índice pluviométrico este ano e pelo aumento da produção de lixo durante o período de isolamento social.

Ainda segundo o Inea, os resíduos seguem para as redes de águas pluviais e desembocam nos rios, onde são barrados pelas ecobarreiras. Atualmente, de acordo com o órgão, existem 17 ecobarreiras em funcionamento para evitar que o lixo se propague pela Baía de Guanabara.

“As [plantas] macrófitas aquáticas são vegetais como quaisquer outros e têm sua função na alimentação, proteção e filtragem da água. O problema é que quando submetidas a processos de degradação como, por exemplo, o despejo de esgoto que fornece grande volume de nutrientes, podem se tornar uma praga”, destacou o biólogo Mário Moscatelli, citando como exemplo deste tipo de planta as gigogas.

Contaminação

Moscatelli sobrevoa a região com frequência com o projeto Olho Verde, que acompanha a situação ambiental em alguns dos principais pontos do Rio e destacou que o problema também acontece de forma semelhante no sistema lagunar de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio – as imagens que ilustram esta reportagem foram cedidas pelo projeto e foram tiradas no dia 22 de maio.

Segundo Moscatelli, as plantas crescem em rios contaminados pelo esgoto e descem até a Baía.

“As macrófitas em grande quantidade, fora do normal esperado, são apenas o reflexo da contaminação por esgoto que acontece de forma generalizada nos rios da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara”, explicou.

Para o professor de Oceanografia da UERJ, David Zee, o aumento indica problemas na coleta do lixo em vários pontos, principalmente nas áreas mais pobres, e indica uma maior gravidade na situação de vários pontos da baía.

“Esta é a indicação na piora na qualidade da água da Baía de Guanabara, o fundo que está se transformando em um pântano. Estas plantas, que se proliferam na água doce, possuem espaço para crescer ali porque a água não se renova, a água do mar não chega em alguns pontos. O local fica com água doce, sem salinidade e esgoto, ideal para a proliferação”, explicou Zee.

Coleta seletiva

O ambientalista Sérgio Ricardo, do Baía Viva, acredita que este número possa ser maior. Ele afirmou que a falta de coleta seletiva nas favelas e nas periferias do Rio de Janeiro contribui para o despejo de lixo doméstico na Baía de Guanabara. Ricardo também ressaltou que as cooperativas de catadores fazem o possível para minimizar o problema.

“Nas periferias urbanas, há uma grande deficiência de serviços de coleta. Assim, a população coloca o lixo nas ruas, praças e beiras dos rios, canais e valões. Nos períodos de chuva intensa, grande parte deste lixo é transportado para rios, canais e valões e acaba na Baía de Guanabara”, afirmou o ambientalista.

Até o fechamento desta reportagem, o Inea não comentou o questionamento do ambientalista.

A Comlurb não possui dados da coleta seletiva especificamente em comunidades, mas afirmou que a coleta seletiva aumentou em toda a cidade durante o isolamento social. O crescimento foi de 24% em março em relação ao mesmo mês do ano passado. E o aumento foi de 19% em abril.

Poluição dos Rios

Sobre as comunidades do Rio, a Comlurb informa que, na semana entre os dias 8 e 14 de março, a média diária de recolhimento era de 609 toneladas por dia. Na semana entre os dias 31 de maio e 6 de junho, a média foi de 587 toneladas diárias.

Moscatelli como exemplos de locais que despejam lixo sem tratamento na Baía os rios Sarapuí e Iguaçu.

“Infelizmente os rios que chegam na Baía em sua maioria são valões de esgoto e lixo, e todo esse material acaba como destino final a Baía. Se não houver a ação das ecobarreiras nos principais rios, a situação da baía seria ainda pior do que já o é”, ressaltou Moscatelli.

Zee complementou que o problema pode ter consequências graves. “Em algum momento, com esse assoreamento, vai haver um refluxo dessa água e isso vai favorecer enchentes durante o período de chuvas, pois não há como escoar”, afirmou.

Fonte: G1.