Estadão
06/11/2019

Por Charles Lenzi*

Em 18 de outubro de 2019, foi realizado o 2º Leilão de Energia Nova para contratação de energia com início de suprimento em 2025. Sob a condução da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o certame foi considerado um sucesso pelo mercado, superando as expectativas de especialistas, visto que foram contratados um total de 1.702,5MWm de garantia física correspondentes a 91 usinas vencedoras; valor bastante representativo diante do contexto de crise econômica.

O sucesso deste certame se deu também sob o ponto de vista da diversidade de fontes que foram comercializadas e do protagonismo das renováveis. Foram contratados 1,04 gigawatt em capacidade instalada de usinas eólicas, 530 megawatts em parques solares, 445 megawatts de hidrelétricas, cerca de 230 megawatts em térmicas a biomassa, além das termelétricas a gás, que negociaram 734 megawatts.

A sustentabilidade do sistema elétrico brasileiro depende, fundamentalmente, da participação equilibrada, planejada e inteligente de cada uma destas fontes de geração, considerando suas características e particularidades. Essa diversidade e complementaridade de fontes é uma riqueza que o Brasil privilegiadamente esbanja, como poucos países no planeta.

Ainda sobre o Leilão A-6, cabe ressaltar que um dos pontos de destaque foi a participação das usinas hidrelétricas de pequeno porte, como as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais Geradores Hidrelétricas (CGHs). Ao todo, foram contratadas 19 PCHs e 6 CGHs, que contribuirão com 267,25 MW de potência na expansão da matriz elétrica brasileira.

Esses empreendimentos, que possuem baixo impacto ambiental, serão construídos em 7 Estados, próximos aos locais de consumo, e poderão contribuir para o desenvolvimento das regiões onde estarão instalados com a criação de empregos locais e, também, para a melhoria dos indicadores socioeconômicos dos municípios onde se localizam. Vale lembrar que as PCHs são uma das fontes mais antigas do País, com usinas em operação há mais de 100 anos. E, ao longo desse tempo, se construiu uma cadeia produtiva sólida com tecnologia 100% nacional.

Na perspectiva da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa – ABRAGEL, que congrega mais de 280 (duzentos e oitenta) empresas associadas, distribuídas em 68 diferentes Grupos Econômicos, detentores de 72,5% da capacidade instalada do segmento, embora ainda tenha sido baixa a quantidade total de energia negociada, o resultado foi animador para os investidores do segmento de hidrelétricas de pequeno porte, que vinham perdendo espaço para as outras fontes renováveis nos últimos certames.

Após um período de baixíssima contratação de energia oriunda de PCHs e CGHs, o resultado dos Leilões A-4 e A-6 de 2019 trouxe a expectativa de uma retomada de contratação significativa para o segmento, tal como aquela vivenciada ao longo dos anos de 2015 e 2016, quando foram contratados 230,50 MW de potência advindos de 15 projetos e 443,27 MW correspondentes a 50 projetos, respectivamente.

Como o segmento vem buscando contratação perene, o resultado lança nova perspectiva para os investidores, ao consolidar investimentos que se iniciaram 10 (dez) anos atrás, haja vista o longo ciclo de desenvolvimento desse tipo de empreendimento. O Leilão A-6 de 2019 demonstrou que as Centrais Hidrelétricas autorizadas até 50MW voltaram a ser uma boa opção para ajudar na expansão da matriz elétrica brasileira de forma limpa e renovável.

* Charles Lenzi, presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Elétrica (ABRAGEL)