Por Carlos Ambrósio – Valor Econômico

14/03/2019 – 05:00

O Brasil está diante de uma grande oportunidade para retomar o caminho do crescimento sustentável. Temos mais uma chance para o país realizar uma saudável correção de rota, reduzindo o peso do Estado na atividade econômica e permitindo um protagonismo maior da iniciativa privada e do mercado de capitais – sem o qual, sempre é bom lembrar, não se alcança o desenvolvimento sustentado em nenhum lugar do mundo.

Vivemos tempos desafiadores e, por isso mesmo, estimulantes. O Brasil precisa seguir adiante no ajuste fiscal e nas reformas econômicas necessárias para resgatar o nível de confiança dos investidores, dos empresários e dos consumidores.

Não é uma jornada fácil, pois implica árduo saneamento das contas públicas, com cortes da máquina governamental e reformas de complexa aprovação, como a previdenciária e a tributária. Mas não há como fugir dessa agenda transformadora.

O novo governo precisa criar condições para que o Estado deixe de ser o principal sorvedouro da riqueza gerada por todos nós, seja na forma de impostos elevados, seja na emissão voraz de títulos da dívida pública. Quanto menos recursos ele retirar da sociedade, mais espaço sobrará para as empresas emitirem títulos mobiliários e de dívida para financiarem seus projetos de crescimento a custos menores.

Quanto mais musculatura tiver o mercado de capitais, mais investidores serão atraídos, mais empregos serão gerados e mais impostos, ao final das contas, serão arrecadados sobre as atividades produtivas.

Por isso, insistimos na agenda pró-mercado. Ela prevê ações para ampliar o número de investidores e de emissões, com consequente aumento da liquidez e das negociações. São necessários alguns ajustes pontuais na regulação e nas leis para estimular os mercados primário e secundário de ações, debêntures e outros papéis.

Não podemos desperdiçar essa chance. Certamente os recursos imprescindíveis para uma nova onda de desenvolvimento não sairão dos cofres públicos.

Vale a pena aprender as lições dos países que investiram em fontes privadas de financiamento de longo prazo e, com isso, obtiveram melhorias em seus indicadores econômicos e sociais. Chile, Austrália e Malásia são bons exemplos, como mostra o estudo “Mercado de capitais: caminho para o desenvolvimento”, elaborado em conjunto por Anbima e B3. Se o novo governo estimular o mercado de capitais, como se espera, os resultados serão visíveis para todos os brasileiros.

A partir de simulações feitas pela Accenture, o estudo indica que o fortalecimento do mercado brasileiro de capitais estimularia o desenvolvimento socioeconômico, gerando 1,7 milhão de empregos adicionais ao país até 2022.

Os investimentos seriam 21% maiores, com valor adicional de R$ 294 bilhões além do volume já projetado para os próximos cinco anos. Os aportes nos setores de eletricidade, saneamento, telecomunicações e transporte cresceriam 18,2%, atraindo R$ 89 bilhões além do previsto. E haveria uma expansão de 12,1% no PIB per capita, levando-o ao patamar de R$ 38,8 mil.

Essa onda teria reflexos positivos na arrecadação de impostos, com alta de 12,1% em 2022, o equivalente a R$ 1 trilhão acumulado no período de cinco anos. O dinheiro extra certamente ajudaria o Estado a investir em áreas vitais para aumentar o bem-estar da população, como saúde, educação e segurança.

Como indicam os números, todos saem ganhando com um mercado de capitais mais pujante. É hora de unir esforços e avançar. O Brasil agradece.

Carlos Ambrósio é presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima)

E-mail: diretoria@anbima.com.br

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