Valor Econômico
12/08/2020

Por Victor Rezende

A taxa do DI para janeiro de 2022 foi de 2,68% para 2,75% e a do contrato para janeiro de 2023 avançou de 3,81% para 3,92%

A apreensão dos investidores com a percepção de que as contas públicas caminham rumo a um ambiente de maior risco se refletiu no mercado futuro de juros nesta quarta-feira (12), com alta relevante das taxas ao longo da curva a termo.

Nos vencimentos de mais longo prazo, o modo “pânico” imperou e fez com que alguns vértices subissem mais de 20 pontos-base nas máximas do dia, em um movimento que resultou em inclinação adicional da curva de juros brasileira.

Já a taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 5,56% para 5,70% e a do contrato para janeiro de 2027 saltou de 6,54% para 6,69%.

Com o spread entre as taxas dos DIs para janeiro de 2022 e de 2027 em 3,94 pontos, a curva atingiu a maior inclinação desde 21 de maio, quando a diferença estava em 4,06 pontos.

“Estamos, agora, em um ambiente de risco fiscal bastante relevante. Nas últimas duas semanas, começamos a ver uma pressão mais forte sobre o teto de gastos e sobre a política de austeridade, mas temos visto sinais muito negativos”, afirma o estrategista Vinicius Alves, da Tullett Prebon Brasil. O gatilho para a forte recomposição de prêmio ao longo da curva veio da saída dos secretários Salim Mattar e Paulo Uebel do governo, mas Alves nota que notícias relacionadas a um possível drible do teto de gastos, com investimentos em infraestrutura ainda este ano, também pesam.

Mesmo depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), terem defendido a regra do teto de gastos e políticas de responsabilidade fiscal, os investidores continuam vendo os riscos bastante elevados.

No momento em que o Congresso e uma ala do governo se mostram mais desenvolvimentistas, outra fonte de preocupação vem da votação dos vetos presidenciais pelo Legislativo. Os vetos sobre o BPC, a desoneração da folha e o marco regulatório do saneamento devem ser acompanhados de perto pelos profissionais do mercado.

É nesse contexto que os investidores locais têm diminuído posição vendida em taxa futura de juros, conforme dados da B3. Ontem, foi a quarta sessão consecutiva de redução na aposta de juros ainda mais baixos pelos investidores nacionais. Do lado oposto, os estrangeiros aumentaram, ontem, pela sétima sessão consecutiva, as posições líquidas tomadas em taxa no mercado de DI.

Na avaliação dos analistas do Citi, a saída de Mattar e Uebel não representa grande surpresa. Para eles, “a principal sinalização a ser monitorada a partir de agora é se Paulo Guedes irá substituir os dois secretários com perfis semelhantes, indicando (ou não) que a interrupção da agenda de privatizações e da reforma administrativa é apenas temporária”.