Valor Econômico
28/01/2020

Por Victor Rezende

Investidor reforça expectativa de novos cortes da Selic em 2020

Apesar do turbulento dia que afetou os mercados financeiros no mundo todo, o seguimento de juros futuros no Brasil teve um pregão relativamente calmo. Sob a expectativa de que a inflação continuará bem comportada ao longo deste ano, os investidores seguem trabalhando com um cenário de continuidade da política de flexibilização monetária do Banco Central (BC)

Ontem, as taxas de juros negociadas na B3 tiveram um novo dia de queda, com direito a novas mínimas históricas no trecho curto da curva a termo. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021, por exemplo, caiu de 4,35% para 4,32%, novo piso histórico, enquanto a do DI para janeiro de 2022 recuou de 4,98% para 4,92%.

O movimento é respaldo por dados de inflação cada vez mais benignos. Coletas diárias de preços indicam que o IPCA desacelerou de 0,37% na quinta para 0,32% na sexta, sendo que a alta do grupo de alimentação perdeu mais força, ao passar de 0,42% para 0,20%. Já a Fipe informou que a inflação na cidade de São Paulo desacelerou para 0,32% na terceira leitura de janeiro, após ter ficado em 0,41% na segunda medição do mês.

Os números também apoiam a leitura de analistas de que a inflação tende a ficar mais comportada nos próximos meses, o que pode fazer com que o BC vá adiante com o ciclo de afrouxamento, com ao menos mais um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros. O Boletim Focus já indica que o cenário de inflação mais fraca em 2020 ganhou fôlego entre os investidores. O ponto médio das projeções do mercado para o IPCA em 2020 caiu de 3,56% a 3,47%, enquanto a mediana das estimativas para a Selic no fim do ano voltou a indicar a taxa básica de juros em 4,25%.

Os economistas da Bradesco Asset Management (Bram) reduziram a estimativa para o IPCA em 2020 de 3,7% para 3,5% e passaram a projetar a Selic em 4,25% contra um cenário de manutenção em 4,5% esperado anteriormente. Em relatório, eles notam que o IPCA-15 de janeiro mostrou desaceleração em relação aos resultados de dezembro diante do arrefecimento nos preços de alimentos. Além disso, para eles, a alimentação fora do domicílio foi o principal item a pressionar núcleos e serviços, mas deve perder fôlego em breve.

O economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, também passou a ver maior chance de redução de 0,25 ponto percentual na taxa Selic em fevereiro. “Como acreditamos que o Copom não gostaria de introduzir ruídos e surpreender os mercados e causar um aperto abrupto nas condições financeiras, prevemos que o BC realmente esteja inclinado a entregar um corte de 0,25 ponto percentual”, diz o economista.

Já o economista-chefe do banco Fibra, Cristiano Oliveira, prevê dois novos cortes de 0,25 ponto na Selic este ano, diante das estimativas de inflação sob controle. “Julgamos que fatores como a sólida ancoragem das expectativas, a recuperação apenas gradual da economia e o ambiente internacional bastante favorável à política monetária expansionista justificam a continuidade do ciclo de cortes dos juros”, escreve Oliveira. O Fibra cortou sua projeção de inflação para 2020 de 3,3% para 3%.