Valor Econômico
28/04/2020

Por Talita Moreira, Flávia Furlan e Estevão Taiar

Dado da Febraban, que inclui concessão nova, renovação e prorrogação, mostra alta de cerca de 22% Os cinco maiores bancos do país – Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa – emprestaram R$ 265,6 bilhões entre 16 de março e 17 de abril, primeiro mês da crise gerada pelo coronavírus, segundo levantamento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Embora as novas concessões representem aumento em relação ao ano passado, ainda há relatos de dificuldade de acesso ao crédito por parte de empresas menores e alguns setores da economia.

Os dados da Febraban, que incluem novas operações de empréstimos e financiamentos, renovação de contratos e prorrogação de parcelas, mostram crescimento de quase 22% em relação ao mês de março do ano passado – segundo a entidade, não há como comparar com o mesmo período de 2019.

“Os números demonstram que não está havendo empoçamento de liquidez. Ao contrário, os bancos concederam mais crédito, apesar do aumento do risco e do custo de captação”, disse ao Valor o presidente da Febraban, Isaac Sidney Ferreira. Ele afirmou que as instituições financeiras aumentaram a concessão, refletindo as medidas anunciadas pelo Banco Central para reforçar a liquidez e pelos próprios bancos, que estão prorrogando os prazos dos contratos.

A avaliação no BC é que as pequenas empresas ainda enfrentam dificuldades para ter acesso a crédito, ainda que, de formal geral, o mercado venha atendendo à demanda das companhias por empréstimos. “A concessão de crédito voltou a crescer. Obviamente, existe ainda uma preocupação de o crédito chegar no pequeno empresário, pequena empresa. O BC está tomando todas as ações possíveis para que isso aconteça”, disse o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ontem no Palácio da Alvorada, ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Desde o início da crise, a autoridade monetária já adotou iniciativas com potencial de injetar R$1,2 trilhão em liquidez no sistema financeiro. “O BC foi o primeiro do mundo que tomou medidas grandes de liquidez e capital, para deixar o sistema financeiro sólido. A gente tem visto resultados disso”, afirmou Campos.

Nas 15 primeiras semanas de 2020 (até 9 de abril), as concessões de crédito livre para pessoas jurídicas atingiram R$ 498,5 bilhões, conforme divulgado ontem pelo BC – alta de 35,5% ante o mesmo período de 2019. Os dados não incluem cheque especial e cartão de crédito.

No intervalo de 30 dias até 17 de abril, segundo a Febraban, os bancos concederam R$ 176,9 bilhões em crédito novo. Desse total, R$ 101,05 bilhões foram para grandes empresas, muitas das quais procuraram sacar linhas pré-aprovadas para reforçar o caixa no início da crise. Executivos dos bancos já afirmaram que a procura das maiores companhias por recursos levou a um estreitamento momentâneo de liquidez e a um aumento nas taxas de juros cobradas desse segmento. De acordo com eles, a situação já foi normalizada.

Empresas médias contrataram R$ 16,962 bilhões e renovaram outros R$ 13,215 bilhões. Os empréstimos a micro e pequenas empresas somaram R$ 20,451 bilhões e as renovações, R$ 18,731 bilhões. No crédito rural, o crédito novo foi de R$ 2,510 bilhões e as renovações, de R$ 194 milhões.

Entidades representativas do varejo ainda relatam dificuldades das empresas, principalmente as pequenas e médias, em ter acesso a crédito bancário. “De cada dez empresas que tentam, uma tem conseguido”, disse Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). “E quem tem relação com bancos públicos consegue boas taxas, nos bancos privados continua difícil, chegando a ser três vezes maior”, complementou.

Solmucci acredita que a situação pode melhorar com a aprovação, no Congresso, de uma linha de crédito de R$ 10,9 bilhões, com recursos do Tesouro, a micro e pequenas empresas. Além disso, companhias dos setores têxtil e de bares e restaurantes poderão ser incluídas no socorro que vem sendo costurado por BNDES e grandes bancos para os segmentos mais atingidos pela crise.

No fim de março, associações que representam grandes varejistas, shopping centers e lojistas encaminharam uma carta ao presidente do BC e ao ministro da Economia, Paulo Guedes, com críticas aos bancos devido ao aumento expressivo de taxas de juros em meio à crise. Segundo o Valor apurou, não houve resposta ao questionamento desses setores.

Em relação às pessoas físicas, as concessões de novas operações nas modalidades consignado, financiamento de veículos, crédito imobiliário e crédito pessoal totalizaram R$ 35,965 bilhões no mês encerrado em 17 de abril. As renovações para o segmento foram de R$ 23,819 bilhões.

Além dessas operações, os bancos renegociaram 3,8 milhões de contratos de pessoas físicas e jurídicas com pagamentos em dia, que têm saldo devedor de R$ 230,6 bilhões. Segundo a Febraban, as parcelas suspensas até agora somam R$ 22,2 bilhões. Os prazos de carência vão de 60 a 180 dias, conforme o banco e a operação.

A soma de crédito novo, renovações de contratos, parcelas postergadas e o saldo devedor das repactuações é de R$ 474,1 bilhões, conforme o levantamento. Segundo Ferreira, além do dinheiro propriamente novo, as renovações e as repactuações também representam caixa disponível para os clientes dos bancos, por isso também são calculadas como concessão. “Em síntese, o crédito não está sendo represado nos bancos”, afirmou.

Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban, explicou que renovações e prorrogações de parcelas também são concessões, já que nessas operações os contratos são liquidados e refeitos. O presidente da Febraban acrescentou que todos os segmentos de clientes têm sido contemplados na oferta de crédito. Mas, colocando na conta dinheiro novo, renovação e prorrogações, as grandes empresas ficaram com 61% dos recursos, em linha com o patamar apresentado em março do ano passado.