Valor Econômico
26/08/2020

Por Lucas Hirata, Ana Carolina Neira, Marcelo Osakabe e Victor Rezende

Já o Ibovespa fecha com queda de 0,18%, aos 102.118 pontos

Diante da falta de motivos claros para definir os rumos do mercado, os investidores têm calibrado suas posições de acordo com temas pontuais de cada setor. Enquanto o Ibovespa segue patinando quase no mesmo lugar, os agentes deslocam suas atenções para casos específicos da bolsa. Já o dólar comercial fechou em firme queda de mais de 1% mesmo sem um gatilho evidente, o que sugere uma entrada pontual de fluxo ou desmontagem de posições.

A moeda americana encerrou em baixa de 1,14%, a R$ 5,5267, perto da mínima do dia, de R$ 5,5146, depois de passar boa parte do dia com oscilações mais moderadas. “O mercado está com baixa defesa, sem muita liquidez. Até pelo horário, qualquer entrada maior [de fluxo] acaba gerando um movimento mais intenso”, diz Italo Abucater dos Santos, gerente de câmbio da Tullett Prebon.

A guinada repentina do câmbio ocorre em meio a algumas avaliações de que a desvalorização recente do real foi bastante intensa e, dada a descompressão recente do cenário político, abre espaço para um ajuste tático. Isso não significa, porém, que o ambiente de negócios esteja muito mais favorável. Pelo contrário, ainda há bastante cautela com a situação fiscal e o ritmo de retomada da atividade.

No mercado de ações, o Ibovespa terminou o pregão em queda de 0,18%, aos 102.118 pontos. O volume financeiro somou R$ 18,5 bilhões, abaixo da média deste ano, de R$ 20,7 bilhões.

“Desde meados de julho, o Ibovespa não tem força para sair do patamar entre 100 mil pontos e 105 mil pontos. Essa cautela mostra que houve, em um primeiro momento, uma recuperação muito forte, mas agora parece estar perto de um preço justo. Não temos um novo pacote do governo ou uma agenda econômica como víamos no começo do ano”, explica Enrico Cozzolino, analista da Daycoval Investimentos.

Nesse ambiente de indefinições macroeconômicas, o investidor também é forçado a olhar com mais atenção casos e segmentos específicos na bolsa. Entre os papéis de maior peso no índice, a Vale perdeu terreno ontem com a queda nos preços de minério de ferro e as ações do setor bancário recuaram em um ambiente de incertezas sobre a situação fiscal no país.

Para Tiago Sampaio Cunha, gestor da Grou Capital, o setor bancário acaba sendo pressionado pelas preocupações com a necessidade de ajustar as contas públicas. Em outras palavras, existe o risco de que os bancos acabem pagando a conta da elevação de gastos, enfrentando aumento de tributação no segmento ou perdendo benefícios. “Esse setor é sempre visto como fonte de receita para aumento de tributos. Logo, se estamos falando de aumento de gastos públicos, teremos que imaginar uma contrapartida com redução de outra rubrica ou aumento de receita”, explica o gestor.

Por outro lado, o setor de vestuários se valorizou com ganhos nas ações de Cia Hering (3,17%) e Lojas Renner (4,29%), além de outras varejistas como Magazine Luiza (1,06%) e Via Varejo (1,72%). “A execução da venda on-line para vestuários não é tão fácil ou óbvia quanto eletroeletrônicos, muito pela questão de experimentação. Mas Marisa conseguiu mostrar um resultado que, embora negativo, foi um pouco melhor do que o esperado, com boas perspectivas para a reabertura da economia. Isso acaba contaminando positivamente todo o setor de varejo de vestuários”, diz o gestor da Grou.

A grande questão para qualquer projeção está na situação fiscal. Em relatório divulgado na noite de segunda, o J.P. Morgan mudou sua avaliação sobre o risco/retorno da moeda brasileira de negativa para neutra. “No mínimo, entendemos que os investidores que estão posicionados contra o real deveriam realizar lucros nos atuais níveis”, dizem os estrategistas do banco em relatório. Eles ressaltam, por outro lado, que ainda não recomendam posições compradas no ativo dado o potencial de volatilidade nas próximas semanas por causa da discussão sobre o Orçamento.

“Nossa postura mudou para buscar oportunidade de assumir apostas do tipo. A dinâmica do balanço de pagamentos está favorável e o Banco Central está em uma posição confortável para defender a moeda local”, dizem os analistas do J.P. Morgan.