Estadão
01/01/2020

Como setor que apresenta maior dificuldade para se recuperar, a indústria é obrigada a reduzir custos para ganhar competitividade e recuperar mercados, a começar do mercado global

É estrutural a redução de custos do setor manufatureiro informada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A queda foi intensa tanto entre o segundo e o terceiro trimestres de 2019 (–0,9%) como entre os terceiros trimestres de 2018 e de 2019 (–2,1%). Parece haver espaço para nova diminuição de custos, como reflexo do recuo dos juros e dos preços de insumos básicos, como os bens intermediários, caso de itens siderúrgicos, plásticos e açúcar.

Um único indicador – o das despesas com mão de obra – registrou aumento, segundo o Indicador de Custos Industriais da CNI. Mas, neste caso, não se pode falar num mau sinal, pois a indústria de transformação depende de pessoal qualificado, paga salários acima da média do setor privado e teria mais dificuldades para se manter competitiva sem preservar suas equipes. Além disso, o acréscimo de custos com pessoal – 0,6% em um trimestre e 2,6% em um ano – é inferior à inflação desses períodos. Ou seja, não há indicação de pressão de demanda de mão de obra num quadro geral de elevado nível de desemprego.

Todos os outros custos industriais recuaram, em alguns casos expressivamente, no terceiro trimestre de 2019.

O custo do capital de giro caiu 3,7% e foi o menor desde o quarto trimestre de 2012. Entre os terceiros trimestres de 2018 e de 2019, a queda foi de 11,6%, a mais forte entre os itens avaliados pela pesquisa.

O custo tributário diminuiu 3,9% em relação ao segundo trimestre, uma das maiores retrações da série da CNI iniciada em 2006. As arrecadações do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e da Contribuição Previdenciária das indústrias apresentaram as maiores quedas. Em relação ao terceiro trimestre de 2018, a baixa foi de 8,3%.

A diminuição do custo com energia também foi expressiva tanto na comparação de curto como de médio prazo, mas não há certeza de que essa queda se mantenha nos próximos trimestres. A agência reguladora de energia (Aneel) vai elevar a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com impacto nas tarifas que serão cobradas em 2020.

Como setor que apresenta maior dificuldade para se recuperar, a indústria é obrigada a reduzir custos para ganhar competitividade e recuperar mercados, a começar do mercado global. Isso, felizmente, parece estar ocorrendo.