Por Juliana Schincariol e Gabriel Vasconcelos – Valor Econômico

10/05/2019 – 12:30

RIO – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem que ser mais específico e se voltar para questões ligadas a saneamento e infraestrutura, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes.

“O BNDES tem que virar Banco de Desenvolvimento e Saneamento, vamos ser mais específicos”, disse durante participação no XXXI Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae). “Temos que fazer isso porque tem crianças que morrem todos os dias sem saneamento. Nós vamos fazer isso.”

Guedes afirmou que seu compromisso com o presidente do banco de fomento, Joaquim Levy, é “despedalar”. “Levy, por favor, despedale, tem que devolver”, afirmou, em provável referência aos recursos que deverão ser devolvidos antecipadamente ao Tesouro Nacional sem, no entanto, mencioná-los.

O ministro também criticou a política dos “campeões nacionais” dos governos petistas. “Quem faz campeão é o mercado. Isso é uma injustiça. Onde estão essas potências hoje? A não ser com recursos pessoais, bem gordinhos.”

Guedes destacou a capacidade institucional do banco e a necessidade de focar questões como a aceleração das privatizações e o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para infraestrutura. “Vamos entrar em consórcio de privatização, PPIs, reestruturação de Estados e municípios”.

O ministro comentou que há investidores estrangeiros interessados em alocar recursos em saneamento no Brasil. “Tem trilhão de dólar lá fora querendo entrar para trabalhar com saneamento.”

Reformas

O ministro disse que não está sozinho em Brasília e que o apoio às reformas está aumentando. Na visão do ministro, a mídia já aderiu à agenda econômica e o Congresso “está vindo devagar”.

“Não estou sozinho, não. Tem um processo que eu sei que está a nosso favor”, disse, reforçando que está otimista. Ele reconheceu que ainda há um problema de articulação política, mas isso está em evidência. “Vamos aprovar a reforma da Previdência relativamente rápido porque todo mundo sabe que tem que ser feito”, afirmou.

Depois da Previdência, o próximo passo é o pacto federativo, continuou.

Para o ministro, é preciso assumir que “carimbar dinheiro” na Constituição de 1988 foi um erro. “É preciso desvincular todas as receitas de todos os entes federativos. Você dorme no Brasil e, ‘puf’, acorda na Alemanha. É a PEC do pacto federativo. Vamos juntos, vamos unificar impostos, simplificar e baixar as alíquotas”, afirmou. Essa redução também gera menor sonegação e desoneração, completou.

Homenagem

Em seu discurso no Fórum, Guedes não escondeu a emoção ao prestar homenagem ao economista João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento, que morreu em fevereiro. O seminário anual foi fundado por Reis Velloso, fundador também do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplica (Ipea).

“Foram muitos anos de convivência. E esse desabafo eu não pude fazer lá, não pude ir na despedida”, disse, às lágrimas.

Guedes disse que aprendeu a ser tolerante com Reis Velloso, mas que, em uma ocasião, não se conteve, ao ouvir declarações do então presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) contra o capitalismo.

“Eu disse que, se ele estava muito preocupado com a pobreza, recomendei a ele distribuir preservativos para conter a natalidade”, disse Guedes. Tratava-se de um evento organizado por Reis Velloso, que afastou Guedes depois disso. “O ministro, meu amigo, para me preservar, não me chamou mais. Era uma figura extraordinária.”