Folha de São Paulo
19/08/2020

Por Júlia Moura

Empresa paulista também deve participar de licitações em outros estados

O governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta-feira (19) a capitalização, aumento de capital social, da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

“A decisão do governo do estado de São Paulo é fazer a capitalização da Sabesp na primeira etapa. A empresa vai voltar a um programa de capitalização e, a partir de agosto, vai prestar serviços a outros estados brasileiros, disputando concessões na área de saneamento, no tratamento e distribuição de água, e também no tratamento do lixo”, disse Doria em evento do Santander.

Após a declaração do governador, as ações da companhia na Bolsa de Valores brasileira caíram 10,7% e entraram em leilão. No leilão, a ação segue negociada, mas sai de pregão por um curto período devido a bruscas oscilações de preço. No fechamento, reduziram a queda para 5%, a R$ 52,75.

“A aprovação do novo marco regulatório do saneamento básico era um movimento propício para dar início ao processo de privatização da Sabesp. Mas, com o anúncio da capitalização, primeiro a empresa vai crescer para depois viabilizar a privatização, se é que vai viabilizar, e essa mudança de perspectiva levou à queda das ações”, diz Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.

A Sabesp é uma empresa de capital misto, tendo o estado de São Paulo como principal acionista (50,26% das ações). Investidores esperavam a privatização da empresa na gestão Doria, o que a levou a se valorizar cerca de 60% na Bolsa desde 2019.

Agora, com a capitalização como primeira etapa, o mercado vê dificuldade em uma privatização antes de 2022. Ambos os processos tomam tempo e a privatização também traria um grande custo político.

“A capitalização traz, a princípio, menos vantagem que a privatização e ambos são modelos complexos, que levam tempo para ser maturados”, diz Ilan Abertman, analista da Ativa Investimentos.

O processo de capitalização da Sabesp é planejado desde o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), com a lei para reorganização societária da companhia aprovada em 2017.

No governo Doria, estavam em estudo a privatização e a capitalização, com a última sendo considerada como mais viável no primeiro momento, mas, com o novo marco regulatório do saneamento básico, o mercado esperava a privatização sem a capitalização.

O aumento de capital pela criação de uma holding que controlaria a Sabesp foi aprovado em 2018 pelo conselho da empresa, com o objetivo de captar R$ 5 bilhões, dos quais R$ 4 bilhões iriam para o estado e R$ 1 bilhão para a empresa.

Segundo secretário de Fazenda e Planejamento do governo do estado, Henrique Meirelles, a eventual privatização da Sabesp poderia render ao governo estadual ao menos R$ 10 bilhões.

Doria não deu detalhes da operação nesta quarta, mas disse que a capitalização será divulgada em breve junto ao presidente da Sabesp, Benedito Braga.

Em nota, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado de São Paulo disse que a privatização da empresa ainda está nos planos e que a Sabesp busca se posicionar frente ao novo marco do saneamento “que trouxe oportunidades que permitem à empresa ampliar sua atuação no mercado de saneamento e também investir em novos negócios, como o tratamento de resíduos e a geração de energia”.

“A Sabesp ainda fortaleceu os contratos de programas com 375 municípios do estado de São Paulo com vistas à universalização. Tais ações permitiram o crescimento, a qualificação e o fortalecimento da empresa, de modo a prepará-la para as melhores soluções que ainda serão definidas pelo governo, incluindo a privatização”.